Namorados do Mirante

Eles eram mais antigos que o silĂȘncio
A perscrutar-se intimamente os sonhos
Tal como duas sĂșbitas estĂĄtuas
Em que apenas o olhar restasse humano.
Qualquer toque, por certo, desfaria
Os seus corpos sem tempo em pura cinza.
A Remontavam às origens — a realidade
Neles se fez, de substĂąncia, imagem.
Dela a face era fria, a que o desejo
Como um hictus, houvesse adormecido
Dele apenas restava o eterno grito
Da espĂ©cie — tudo mais tinha morrido.
CaĂ­am lentamente na voragem
Como duas estrelas que gravitam
Juntas para, depois, num grande abraço
Rolarem pelo espaço e se perderem
Transformadas na magma incandescente
Que milénios mais tarde explode em amor
E da matéria reproduz o tempo
Nas galĂĄxias da vida no infinito.

Eles eram mais antigos que o silĂȘncio…