Meditação

Às vezes, quando a noite vem caindo,
Tranquilamente, sossegadamente,
Encosto-me Ă  janela e vou seguindo
A curva melancĂłlica do Poente.

NĂŁo quero a luz acesa. Na penumbra,
Pensa-se mais e pensa-se melhor.
A luz magoa os olhos e deslumbra,
E eu quero ver em mim, Ăł meu amor!

Para fazer exame de consciĂȘncia
Quero silĂȘncio, paz, recolhimento
Pois sĂł assim, durante a tua ausĂȘncia,
Consigo libertar o pensamento.

Procuro entĂŁo aniquilar em mim,
A nefasta influĂȘncia que domina
Os meus nervos cansados; mas por fim,
Reconheço que amar-te é minha sina.

Longe de ti atrevo-me a pensar
Nesse estranho rigor que me acorrenta:
E tenho a sensação do alto mar,
Numa noite selvagem de tormenta.

Tens no olhar magias de profeta
Que sabe ler no cĂ©u, no mar, nas brasas…
Adivinhas… Serei a borboleta
Que vendo a luz deixa queimar as asas.

No entanto — vĂȘ lĂĄ tu!— Eu nĂŁo lamento
Esta vontade que se impĂ”e Ă  minha…
Nem me revolto… cedo ao encantamento…
— Escrava que não soube ser Rainha!

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