Poemas Interrogativos de Rainer Maria Rilke

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Infância

Passa lento o tempo da escola e a sua angĂşstia
com esperas, com infinitas e monótonas matérias.
Oh solidĂŁo, oh perda de tempo tĂŁo pesada…
E entĂŁo, Ă  saĂ­da, as ruas cintilam e ressoam
e nas praças as fontes jorram,
e nos jardins é tão vasto o mundo —.
E atravessar tudo isto em calções,
diferente de como os outros vão e foram —:
Oh tempo estranho, oh perda de tempo,
oh solidĂŁo.

E olhar tudo isto à distância:
homens e mulheres; homens, homens, mulheres
e crianças, tão diferentes e coloridas —;
e entĂŁo uma casa, e de vez em quando um cĂŁo
e o medo surdo trocando-se pela confiança:
Oh tristeza sem sentido, oh sonho, oh medo,
Oh infindável abismo.

E entĂŁo jogar: Ă  bola e ao arco,
num jardim que manso se desvanece
e por vezes tropeçar nos crescidos,
cego e embrutecido na pressa de correr e agarrar,
mas ao entardecer, com pequenos passos tĂ­midos,
voltar silencioso a casa, a mão agarrada com força —:
Oh compreensĂŁo cada vez mais fugaz,
Oh angĂşstia,

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A Canção do Idiota

NĂŁo me incomodam. Deixam-me ir.
Dizem que nĂŁo pode acontecer nada.
Ainda bem.
NĂŁo pode acontecer nada. Tudo chega e gira
sempre em torno do EspĂ­rito Santo,
em torno de determinado espírito (tu sabes) —
que bem.

NĂŁo, realmente nĂŁo deve pensar-se que haja
qualquer perigo nisso.
Sim, há o sangue.
O sangue Ă© o mais pesado. O sangue Ă© pesado.
Por vezes penso que não posso mais —
(Ainda bem.)

Ah, que linda bola;
vermelha e redonda como um Em-toda-a-parte.
Ainda bem que a criastes.
Ela vem quando se chama?

De que estranha maneira tudo se comporta,
apressa-se a juntar-se, separa-se nadando:
amigável, um pouco vago.
Ainda bem.

Tradução de Maria João Costa Pereira