Poemas Interrogativos de SaĂșl Dias

7 resultados
Poemas interrogativos de SaĂșl Dias. Leia e compartilhe poemas de SaĂșl Dias em Poetris.

Nua

I

Nua
como Eva.
A cabeleira
beija-lhe o rosto oval e flutua;
o corpo
Ă© ĂĄgua de torrente…

Eva adolescente,
com reflexos de lua
e tons de aurora…!

Roseira que enflora…!

Desflorada por tanta gente…

II

Teu corpo,
mal o toquei…

SĂł te abracei
de leve…

Foi todo neve
o sonho que alonguei…

Asas em voo,
quem, um dia, as teve?

Os sonhos que eu sonhei!

III

Jeito de ave
e criança,
suave
como a dança
do ramo de ĂĄrvore
que o vento beija e balança!

Nave
de sonho
no temporal medonho
silvando agoiro!

Quem destrançou os teus cabelos de oiro?

IV

Corpo fino,
delicado,
sereno, sem desejos…

TĂŁo macio,
tĂŁo modelado…

Beijos… Beijos… Beijos…

V

No meu sono
ela flutua
a cada passo…

Nua,
riscando o espaço
numa nĂ©voa de outono…

Continue lendo…

Amo-te Tanto

Amo-te tanto
nem sei porquĂȘ!
Que importa o quĂȘ
do meu espanto?

Que importa o riso
que me concedes?
Que me embebedes!
Que paraĂ­so!

Indiferente
quero-te assim.
– SĂȘ bem de mim,
de toda a gente…

Rasgou-se o véu
do temporal.
Nem bem nem mal.
Entras no céu.

Sofro de nĂŁo te Ver

Sofro
de nĂŁo te ver,
de perder
os teus gestos
leves, lestos,
a tua fala
que o sorriso embala,
a tua alma
lĂ­mpida, tĂŁo calma…

Sofro
de te perder,
durante dias que parecem meses,
durante meses que parecem anos…

Quem vem regar o meu jardim de enganos,
tratar das ĂĄrvores de tenrinhos ramos?

Interrogação

Sim, preferi deixar-te,
abandonando
a dĂĄdiva de encontrar-te.

Quem eras afinal?
Qual a estrela que te guiava?
Qual a cor dos teus dias?
Qual o segredo que em ti eu tentei desvendar?

Abandonei-te.
No entanto,
na minha vida
talvez fosses o leite
capaz de me curar.

Nunca EnvelhecerĂĄs

A tua cabeleira
Ă© jĂĄ grisalha ou mesmo branca?
Para mim Ă© toda loira
e circundada de estrelas.
Sobre ela
o tempo nĂŁo poisou
o inverno dos anos
que se escoam maldosos
insinuando rugas, fios brancos…

Ao teu corpo colou-se
o vestido de seda,
como segunda pele;
entre os seios pequenos
viceja perene
um raminho de cravos…

PĂ©talas esguias
emolduram-te os dedos…
E revoadas de aves
traçam ao teu redor
volutas de primavera.

Nunca envelhecerĂĄs na minha lembrança!…

Ali

Ali sofreste. Ali amaste.
Ali Ă© a pedra do teu lar.
Ali Ă© o teu, bem teu lugar.
Ali a praça onde jogaste
o que o destino te quis dar.

Ali ficou tua pegada
impressa, firme, sobre o chĂŁo.
NinguĂ©m a vĂȘ sob o montĂŁo
de cinza fria e poeirada?
Distingue-a, sim, teu coração.

Podem talvez o vento, a neve,
roubar a flor que tu criaste?
Ali sofreste. Ali amaste.
Ali sentiste a vida breve.
Ali sorriste. Ali choraste.

A Minha Hora

Que horas sĂŁo? O meu relĂłgio estĂĄ parado,
HĂĄ quanto tempo!…
Que pena o meu relĂłgio estar parado
E eu nĂŁo poder marcar esta hora extraordinĂĄria!
Hora em que o sonho ascende, lento, muito lento,
Hora som de violino a expirar… Hora vĂĄria,
Hora sombra alongada de convento…

Hora feita de nostalgia
Dos degredados…
Hora dos abandonados
E dos que o tĂ©dio abate sem cessar…
Hora dos que nunca tiveram alegria,
Hora dos que cismam noite e dia,
Hora dos que morrem sem amar…

Hora em que os doentes de corpo e alma,
Pedem ao Senhor para os sarar…
Hora de febre e de calma,
Hora em que morre o sol e nasce o luar…
Hora em que os pinheiros pela encosta acima,
SĂŁo monges a rezar…

Hora irmĂŁ da caridade
Que dĂĄ remĂ©dio aos que o nĂŁo tĂȘm…
Hora saudade…
Hora dos Pedro Sem…
Hora dos que choram por nĂŁo ter vivido,
Hora dos que vivem a chorar alguĂ©m…

Hora dos que tĂȘm um sonho ĂĄguia mas… ai!
Águia sem asas para voar…

Continue lendo…