Poemas sobre Jardim de Fernando Pessoa

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Poemas de jardim de Fernando Pessoa. Leia este e outros poemas de Fernando Pessoa em Poetris.

Cerca de Grandes Muros Quem te Sonhas

Cerca de grandes muros quem te sonhas.
Depois, onde Ă© visĂ­vel o jardim
Através do portão de grade dada,
PÔe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada.

Faze canteiros como os que outros tĂȘm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim com lho vais mostrar.
Mas onde Ă©s teu, e nunca o vĂȘ ninguĂ©m,
Deixa as flores que vĂȘm do chĂŁo crescer
E deixa as ervas naturais medrar.

Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu Ă©s –
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trås do qual a flor nativa roça
A erva tĂŁo pobre que nem tu a vĂȘs…

As Minhas Ansiedades

As minhas ansiedades caem
Por uma escada abaixo.
Os meus desejos balouçam-se
Em meio de um jardim vertical.

Na MĂșmia a posição Ă© absolutamente exata.

MĂșsica longĂ­nqua,
MĂșsica excessivamente longĂ­nqua,
Para que a Vida passe
E colher esqueça aos gestos.

O Andaime

O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi sĂł a vida mentida
De um futuro imaginado!

Aqui Ă  beira do rio
Sossego sem ter razĂŁo.
Este seu correr vazio
Figura, anĂŽnimo e frio,
A vida vivida em vĂŁo.

A ‘sp’rança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha ‘s’prança,
Rola mais que o meu desejo.

Ondas do rio, tĂŁo leves
Que nĂŁo sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam — verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.

Gastei tudo que nĂŁo tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusĂŁo, que me mantinha,
SĂł no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.

Leve som das ĂĄguas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava jĂĄ perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.

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Elas SĂŁo Vaporosas

Elas sĂŁo vaporosas,
PĂĄlidas sombras, as rosas
Nadas da hora lunar…

VĂȘm, aĂ©reas, dançar
Com perfumes soltos
Entre os canteiros e os buxos…
Chora no som dos repuxos
O ritmo que hĂĄ nos seus vultos…

Passam e agitam a brisa…
PĂĄlida, a pompa indecisa
Da sua flébil demora
Paira em aurĂ©ola Ă  hora…

Passam nos ritmos da sombra…
Ora Ă© uma folha que tomba,
Ora uma brisa que treme
Sua leveza solene…

E assim vĂŁo indo, delindo
Seu perfil Ășnico e lindo,
Seu vulto feito de todas,
Nas alamedas, em rodas,
No jardim lĂ­vido e frio…

Passam sozinhas, a fio,
Como um fumo indo, a rarear,
Pelo ar longĂ­nquo e vazio,
Sob o, disperso pelo ar,
PĂĄlido pĂĄlio lunar …