Poemas de Jorge Reis-Sá

6 resultados
Poemas de Jorge Reis-Sá. Conheça este e outros autores famosos em Poetris.

Escrevo como quem Quer Ser Escrito

escrevo como quem quer ser escrito

uma árvore ou uma pena no centro da frase
um espelho branco onde observo a palavra

e dos seus troncos brotam folhas, letras
inundações de verde no lago azul do céu
que caem, voando, asas de papel

como tu, também eu sussurro
lentas sílabas à leve melancolia que nos abraça

Digo que Te Amo

digo que te amo
sorris e eu amo, digo que te quero
sorris e eu quero, dizes em sonhos

em sonhos que já tive, onde desejei ser céu sol e
estrelas para que te pudesse olhar eternamente

Pai, a Minha Sombra Ă©s Tu

a cadeira está vazia, um corpo ausente
não aquece a madeira que lhe dá forma

e não ouço o recado que me quiseste dar
nem a tua voz forte que grita meninos
na hora de acordar
ouço o teu abraço, no corredor em gaia
e os olhos molhados pela inusitada despedida

o sol foge
mas o crepĂşsculo desenha a sombra que
tenho colada aos pés
ou o espelho, coberto com a tua face

pai, digo-te
a minha sombra Ă©s tu

Dois Amantes, o Mundo

dois amantes, o mundo
cada um no seu reino, beijam-se nas praias
quando as ondas batem as areias

o mar Ă© o meu navio,
hoje naufrago feliz

sabes quem sou, as dunas
que se levantam com o vento sĂŁo
os sonhos do amor que dormita
em sossego nas praias

a terra Ă©s tu o mar sou eu

A Disponibilidade de um Amor

a disponibilidade de um amor
nasce numa cratera de deus

anos antes, um pequeno corpo rochoso beijou
a pele do pátio e um pequeno estrondo, tal suspiro
saiu da sua boca, expirou

a brisa, breve e quente
esvoaça sobre os sulcos da terra
e leva consigo uma espera

hoje essa terra Ă©s tu
e um amor disponĂ­vel Ă© a espera
que espera algures por ti

Sabes, Pai

sabes, pai

o cachecol bege nos muros da foz
cobria as árvores com o seu pêlo, ao vento
o boné azul, marinheiro nos cabelos louros
sussurrava pequenas frases às silentes águas
o teu sorriso tĂŁo leve, enternecia o rosto
esses Ăłculos, teu cabelo nas tardes de sol

ou o barco encalhado na areia breve
junto ao castelo onde nos passeávamos
eu tu a mĂŁe, duas ou trĂŞs falas e o meu corpo
que se chegava a vĂłs junto Ă  estrada

nestes muros da foz, abertos ao mar
que voava