Da verdade do amor
Da verdade do amor se meditam
relatos de viagens confissões
e sempre excede a vida
esse segredo que tanto desdém
guarda de ser ditopouco importa em quantas derrotas
te lançou
as dores os naufrágios escondidos
com eles aprendeste a navegação
dos oceanos geladosnão se deve explicar demasiado cedo
atrás das coisas
o seu brilho cresce
sem rumor
Poemas de José Tolentino Mendonça
4 resultadosA Noite Abre Meus Olhos
Caminhei sempre para ti sobre o mar encrespado
na constelação onde os tremoceiros estendem
rondas de aço e charcos
no seu extremo azuladoFerrugens cintilam no mundo,
atravessei a corrente
unicamente às escuras
construí minha casa na duração
de obscuras línguas de fogo, de lianas, de líquenesA aurora para a qual todos se voltam
leva meu barco da porta entreabertao amor é uma noite a que se chega só
Não Deixeis um Grande Amor
Aos poucos apercebi-me do modo
desolado incerto quase eventual
com que morava em minha casaassim ele habitou cidades
desprovidas
ou os portos levantinos a que
se ligava apenas por saber
que nada ali o esperavaassim se reteve nos campos
dos ciganos sem nunca conseguir
ser um deles:
nas suas rixas insanas
nas danças de navalhas
na arte de domar a dorchegou a ser o melhor
mas era ainda a criança perdida
que protesta inocência
dentro do escuronão será por muito tempo
assim eu pensava
e pelas falésias já a solidão
dele vinhanão será por muito tempo
assim eu pensava
mas ele sorria e uma a uma
as evidencias negavapor isso vos digo
não deixeis o vosso grande amor
refém dos mal-entendidos
do mundo
A Estrada Branca
Atravessei contigo a minuciosa tarde
deste-me a tua mão, a vida parecia
difícil de estabelecer acima do muro altofolhas tremiam
ao invisível peso mais fortePodia morrer por uma só dessas coisas
que trazemos sem que possam ser ditas:
astros cruzam-se numa velocidade que apavora
inamovíveis glaciares por fim se deslocam
e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate