Canção à Ausente
Para te amar ensaiei os meus lĂĄbios…
Deixei de pronunciar palavras duras.
Para te amar ensaiei os meus lĂĄbios!Para tocar-te ensaiei os meus dedos…
Banhei-os na ĂĄgua lĂmpida das fontes.
Para tocar-te ensaiei os meus dedos!Para te ouvir ensaiei meus ouvidos!
Pus-me a escutar as vozes do silĂȘncio…
Para te ouvir ensaiei meus ouvidos!E a vida foi passando, foi passando…
E, à força de esperar a tua vinda,
De cada braço fiz mudo cipreste.A vida foi passando, foi passando…
E nunca mais vieste!
Poemas sobre LĂĄbios de Pedro Homem de Melo
5 resultadosConfissĂŁo
Meus lĂĄbios, meus olhos (a flor e o veludo…)
Minha ideia turva, minha voz sonora,
Meu corpo vestido, meu sonho desnudo…
Senhor confessor! Sabeis tudo â tudo!
Quanto o vulgo, ingénuo, ao saudar-me, ignora!Sabeis que em meus beijos a fome dormira
Antes que da orgia a fĂ© despertasse…
Sabeis que sem oiro o mundo Ă© mentira
E, como do fruto que Deus proibira,
Um luar tombou, manchando-me a face.PĂĄssaro, cativo da noite infinita!
Ăguia de asa inĂștil, pela noite presa!
Ă cruz dos poetas! Ăł noite infinita!
Ă palavra eterna! minha Ășnica escrita!
Beleza! Beleza! Beleza! Beleza!Eis as minhas mĂŁos! Quem pode prendĂȘ-las?
SĂŁo frĂĄgeis, mas nelas hĂĄ dedos inteiros.
Senhor confessor! Quem nĂŁo conta estrelas?
Meus dedos, um dia, contaram estrelas…
Quem conta as estrelas nĂŁo conta dinheiros!
Adolescentes
Exaustos, mudos, sempre que os vejo,
Nos bancos tristes que hĂĄ na cidade,
Sobe em mim prĂłprio como um desejo
Ou um remorso da mocidade…E atĂ© a brisa, perfidamente
Lhes roça os låbios pelos cabelos
Quando a cidade, na sua frente
Rindo e correndo, finge esquecĂȘ-los!Eles, no entanto, sentem-na bela.
(Deram-lhe sangue, pranto e suor).
Quantos, mais tarde se vingam dela
Por tudo o que hoje sabem de cor!E essas paragens nos bancos tristes
(Aquela estranha meditação!)
Traz-lhes, meu Deus, sĂł porque existes,
A garantia do teu perdĂŁo!
Eternidade
A minha eternidade neste mundo
Sejam vinte anos sĂł, depois da morte!
O vento, eles passados, que, enfim, corte
A flor que no jardim plantei tĂŁo fundo.As minhas cartas leia-as quem quiser!
Torne-se pĂșblico o meu pensamento!
E a terra a que chamei â minha mulher â
A outros dĂȘ seu lĂĄbio sumarento!A outros abra as fontes do prazer
E teça o leito em pétalas e lume!
A outros dĂȘ seus frutos a comer
E em cada noite a outros dĂȘ perfume!O globo tem dois pĂłlos: Ontem e hoje.
Dizemos sĂł: â Meu pai! ou sĂł:â Meu filho!
O resto Ă© baile que nĂŁo deixa trilho.
Rosto sem carne; fixidez que foge.Venham beijar-me a campa os que me beijam
Agora, frĂĄgeis, frĂvolos e humanos!
Os que me virem, morto, ainda me vejam
Depois da morte, vivo, ainda vinte anos!Nuvem subindo, anis que se evapora…
Assim um dia passe a minha vida!
Mas, antes, que uma lĂĄgrima sentida
Traga a certeza de que alguém me chora!Adro!
InocĂȘncia
De um lado, a veste; o corpo, do outro lado,
LĂmpido, nu, intacto, sem defesa…
Mitológico rosto debruçado
Na noite que, por ele, fica acesa!Se traz os lĂĄbios hĂșmidos e lassos
Ă que a paixĂŁo sem mĂĄcula ainda o cega
E tatuou na curva de alvos braços
As sete letras da palavra: entrega.Acre perfume o dessa flor agreste.
Ălcool azul o desse verde vinho.
De um lado o corpo; do outro lado, a veste
Como luar deitado no caminho…Em frente hĂĄ um pinheiro cismador.
O rio corre, vagaroso ao fundo.
Na estrada ninguĂ©m passa… Ai! tanto amor
Sem culpa!
Ai! dos Poetas deste mundo!