Poemas sobre Lembranças de Bernardim Ribeiro

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Poemas de lembranças de Bernardim Ribeiro. Leia este e outros poemas de Bernardim Ribeiro em Poetris.

Lembre-vos quão sem Mudança

Lembre-vos quão sem mudança,
Senhora, Ă© meu querer,
perdida toda esperança;
e de mim vossa lembrança
nunca se pode perder.
Lembre-vos quĂŁo sem por quĂŞ
desconhecido me vejo;
e, com tudo, minha fé
sempre com vossa mercĂŞ,
com mais crecido desejo.

Lembre-vos que se passaram
muitos tempos, muitos dias,
todos meus bens se acabaram,
com tudo, nunca mudaram;
querer-vos, minhas porfias.
Lembre-vos quanta rezĂŁo
tive pera esquecer-vos,
e sempre meu coração,
quanto menos galardĂŁo,
tanto mais firme em querer-vos.

Lembre-vos que, sem mudar
o querer desta vontade,
me haveis sempre de lembrar,
té de todo me acabar,
vĂłs e vossa saudade.
Lembre-vos como pagais
o tempo que me deveis,
olhai quĂŁo mal me tratais:
Sam o que vos quero mais,
o que menos vĂłs quereis.

Lembre-vos tempo passado,
nĂŁo porque de lembrar seja,
mas vereis quĂŁo magoado
devo de ser c’o cuidado
do que minha alma deseja.
Lembre-vos minha firmeza,
de vĂłs tĂŁo desconhecida,
lembre-vos vossa crueza,
junta com minha tristeza,

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Debaixo Minha Vontade

(Sextina)

Ontem pĂ´s-se o sol, e a noute
cobriu de sombra esta terra.
Agora é já outro dia,
tudo torna, torna o sol;
sĂł foi a minha vontade
para nĂŁo tornar co tempo!

Todalas cousas, per tempo,
passam como dia e noute.
Uma sĂł, minha vontade,
nĂŁo, que a dor comigo a aterra;
nela cuido enquanto há sol,
nela em quanto não há dia.

Mal quero per um sĂł dia
a todo o outro dia e tempo,
que a mim pĂ´s-se-me o sol
onde eu sĂł temia a noute;
tenho a mim sobre a terra,
debaixo minha vontade.

Dentro da minha vontade
não há momento do dia
que nĂŁo seja tudo terra;
ora ponho a culpa ao tempo,
ora a torno a pĂ´r Ă  noute.
No melhor pĂ´s-se-me o sol!

Primeiro não haverá sol
que eu descanse na vontade.
PĂ´s-se-me uma escura noute
sobre a lembrança de um dia,
inda mal, porque houve tempo
e porque tudo foi terra.

Haver de ser tudo terra
quanto há debaixo do sol,

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Ontem PĂ´s-se o Sol

Ontem pĂ´s-se o sol, e a noute
cobriu de sombra esta terra.
Agora é já outro dia,
tudo torna, torna o sol;
sĂł foi a minha vontade,
para não tornar c’o tempo!

TĂ´dalas cousas, per tempo,
passam, como dia e noute;
ua sĂł, minha vontade,
nĂŁo, que a dor comigo a aterra;
nela cuido em quanto há sol,
nela enquanto não há dia.

Mal quero per um sĂł dia
a todo outro dia e tempo,
que a mim pĂ´s-se-me o sol
onde eu sĂł temia a noute;
tenho a mim sĂ´bre a terra,
debaxo minha vontade.

Dentro na minha vontade
não há momento do dia
que nĂŁo seja tudo terra;
ora ponho a culpa ao tempo,
ora a torno a pĂ´r Ă  noute:
no milhor pon-se-me o sol!

Primeiro não haverá sol
que eu descanse na vontade.
Pon-se-me ua escura noute
sĂ´bre a lembrança de um dia…
Inda mal porque houve tempo
e porque tudo foi terra.

Haver de ser tudo terra
quanto há debaixo do sol
me descansa,

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