Poemas sobre Lembranças de Ricardo Reis

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Poemas de lembranças de Ricardo Reis. Leia este e outros poemas de Ricardo Reis em Poetris.

Mortos, Ainda Morremos

O rastro breve que das ervas moles
Ergue o pé findo, o eco que oco coa,
A sombra que se adumbra,
O branco que a nau larga —

Nem maior nem melhor deixa a alma Ă s almas,
O ido aos indos. A lembrança esquece,
Mortos, inda morremos.
LĂ­dia, somos sĂł nossos.

Saudoso já deste Verão que Veio

Saudoso já deste verão que veio,
Lágrimas para as flores dele emprego
Na lembrança invertida
De quando hei de perdĂŞ-las.
Transpostos os portais irreparáveis
De cada ano, me antecipo a sombra
Em que hei de errar, sem flores,
No abismo rumoroso.
E colho a rosa porque a sorte manda.
Marcenda, guardo-a; murche-se comigo
Antes que com a curva
Diurna da ampla terra.

Quanto Faças, Supremamente Faze

Quanto faças, supremamente faze.
Mais vale, se a memĂłria Ă© quanto temos,
Lembrar muito que pouco.
E se o muito no pouco te Ă© possĂ­vel,
Mais ampla liberdade de lembrança
Te tornará teu dono.

Vem Sentar-te Comigo, LĂ­dia, Ă  Beira do Rio

Vem sentar-te comigo, LĂ­dia, Ă  beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mĂŁos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e nĂŁo fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mĂŁos, porque nĂŁo vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nĂŁo gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dĂŁo movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente nĂŁo cremos em nada,

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O Passado é o Presente na Lembrança

Se recordo quem fui, outrem me vejo,
E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente
NĂŁo Ă© de mim nem do passado visto,
SenĂŁo de quem habito
Por trás dos olhos cegos.
Nada, senĂŁo o instante, me conhece.
Minha mesma lembrança é nada, e sinto
Que quem sou e quem fui
SĂŁo sonhos diferentes.