As Balas
Dá o Outono as uvas e o vinho
Dos olivais o azeite nos Ă© dado
Dá a cama e a mesa o verde pinho
As balas dão o sangue derramadoDá a chuva o Inverno criador
As sementes da sulcos o arado
No lar a lenha em chama dá calor
As balas dão o sangue derramadoDá a Primavera o campo colorido
GlĂłria e coroa do mundo renovado
Aos corações dá amor renascido
As balas dão o sangue derramadoDá o Sol as searas pelo Verão
O fermento ao trigo amassado
No esbraseado forno dá o pão
As balas dão o sangue derramadoDá cada dia ao homem novo alento
De conquistar o bem que lhe Ă© negado
Dá a conquista um puro sentimento
As balas dĂŁo o sangue derramadoDo meditar, concluir, ir e fazer
Dá sobre o mundo o homem atirado
Ă€ paz de um mundo novo de viver
As balas dão o sangue derramadoDá a certeza o querer e o concluir
O que tanto nos nega o Ăłdio armado
Que a vida construir Ă© destruir
Balas que o sangue derramadoQue as balas sĂł dĂŁo sangue derramado
SĂł roubo e fome e sangue derramado
SĂł ruĂna e peste e sangue derramado
SĂł crime e morte e sangue derramado.
Poemas Longos de Manuel da Fonseca
3 resultadosPoemas da Infância
Segundo
Quando foi que demorei os olhos
sobre os seios nascendo debaixo das blusas,
das raparigas que vinham, Ă tarde, brincar comigo?…
… Como nasci poeta
devia ter sido muito antes que as mĂŁes se apercebessem disso
e fizessem mais largas as blusas para as suas meninas.
Quando, nĂŁo sei ao certo.Mas a histĂłria dos peitos, debaixo das blusas,
foi um grande mistério.
TĂŁo grande
que eu corria até ao cansaço.
E jogava pedradas a coisas impossĂveis de tocar,
como sejam os pássaros quando passam voando.E desafiava,
sem razĂŁo aparente,
rapazes muito mais velhos e fortes!
E uma vez,
de cima de um telhado,
joguei uma pedrada tĂŁo certeira
que levou o chapéu do Senhor Administrador!Em toda a vila
se falou logo num caso de polĂtica;
o Senhor Administrador
mandou vir da cidade uma pistola,
que mostrava, nos cafés, a quem a queria ver;
e os do partido contrário
deixaram crescer o musgo nos telhados
com medo daquela raiva de tiros para o cĂ©u…Tal era o mistĂ©rio dos seios nascendo debaixo das blusas!
Vida
Vida:
sensualĂssima mulher de carnes maravilhosas
cujos passos sĂŁo horas
cadenciadas
rĂtmicas
fatais.
A cada movimento do teu corpo
dispersam asas de desejos
que me roçam a pele
e encrespam os nervos na alucinação do «nunca mais».
Vou seguindo teus passos
lutando e sofrendo
cantando e chorando
e ficam abertos meus braços:
nunca te alcanço!
Meu suplĂcio de Tântalo.
Envelheço…
E tu, Vida, cada vez mais viçosa
na oscilação nervosa
das tuas ancas fecundas e sempre virgens!
Ă€ punhalada dilacero a folhagem
e abro clareiras
na floresta milenária do meu caminho.
Humildemente se rasga e avilta
no roçar dos espinhos
minha carne dorida.
E quando julgo chegada a hora
meu abraço de posse fica escancarado no ar!
OlĂmpica
firme
gloriosa
tu passas e não te alcanço, Vida.
Caio suado de borco
no lodo…
O vento da noite badala nos ramos
sarcasmos canalhas.
NĂŁo avisto a vida!
Tenho medo, grito.
Creio em Deus e nos fantásticos ecos
do meu grito
que vĂŞm de longe e de perto
do sul e do norte
que me envolvem
e esmagam:
— maldita selva,