O Oleiro
Há em todo o teu corpo
uma taça ou doçura a mim destinada.Quando levanto a mão
encontro em cada lugar uma pomba
que andava Ă minha procura, como
se te houvessem, meu amor, feito de argila
para as minhas mĂŁos de oleiro.Os teus joelhos, os teus seios,
a tua cintura,
faltam em mim como no cĂ´ncavo
duma terra sedenta
a que retiraram
uma forma,
e, juntos,estamos completos como um sĂł rio,
como um sĂł areal.
Poemas sobre Lugares de Pablo Neruda
3 resultadosTodo o Amor em Nosso Amor se Encerra
Minha moça selvagem, tivemos
que recuperar o tempo
e caminhar para trás, na distância
das nossas vidas, beijo a beijo,
retirando de um lugar o que demos
sem alegria, descobrindo noutro
o caminho secreto
que aproximava os teus pés dos meus,
e assim tornas a ver
na minha boca a planta insatisfeita
da tua vida estendendo as raĂzes
para o meu coração que te esperava.
E entre as nossas cidades separadas
as noites, uma a uma,
juntam-se Ă noite que nos une.
Tirando-as do tempo, entregam-nos
a luz de cada dia,
a sua chama ou o seu repouso,
e assim se desenterra
na sombra ou na luz nosso tesouro,
e assim beijam a vida os nossos beijos:
todo o amor em nosso amor se encerra:
toda a sede termina em nosso abraço.
Aqui estamos agora frente a frente,
encontrámo-nos,
nĂŁo perdemos nada.
Percorremo-nos lábio a lábio,
mil vezes trocámos
entre nĂłs a morte e a vida,
tudo o que trazĂamos
quais mortas medalhas
atirámo-lo ao fundo do mar,
tudo o que aprendemos
de nada serviu:
começámos de novo,
Bela
Bela,
como na pedra fresca
da fonte, a água
abre um vasto relâmpago de espuma,
assim Ă© o sorriso do teu rosto,
bela.Bela,
de finas mãos e delicados pés
como um cavalinho de prata,
caminhando, flor do mundo,
assim te vejo,
bela.Bela,
com um ninho de cobre enrolado
na cabeça, um ninho
da cor do mel sombrio
onde o meu coração arde e repousa,
bela.Bela,
nĂŁo te cabem os olhos na cara,
nĂŁo te cabem os olhos na terra.
Há paĂses, há rios
nos teus olhos,
a minha pátria está nos teus olhos,
eu caminho por eles,
eles dĂŁo luz ao mundo
por onde quer que eu vá,
bela.Bela,
os teus seios sĂŁo como dois pĂŁes feitos
de terra cereal e lua de ouro,
bela.Bela,
a tua cintura
moldou-a o meu braço como um rio quando
passou mil anos por teu doce corpo,
bela.Bela,
não há nada como as tuas coxas,