Poemas sobre Mães de José Luís Peixoto

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Poemas de mães de José Luís Peixoto. Leia este e outros poemas de José Luís Peixoto em Poetris.

Palavras para a Minha MĂŁe

mĂŁe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mĂŁe, e esperar nĂŁo Ă© suficiente.

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mĂŁe, e sei que pedir desculpa nĂŁo Ă© suficiente.

Ă s vezes, quero dizer-te tantas coisas que nĂŁo consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo Ă© a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estĂĄs feliz.

lĂȘ isto: mĂŁe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que nĂŁo
escrevi estas palavras, sim, mĂŁe, hei-de fingir que
nĂŁo escrevi estas palavras, e tu hĂĄs-de fingir que nĂŁo
as leste, somos assim, mĂŁe, mas eu sei e tu sabes.

na hora de pĂŽr a mesa, Ă©ramos cinco

na hora de pĂŽr a mesa, Ă©ramos cinco:
o meu pai, a minha mĂŁe, as minhas irmĂŁs
e eu. depois, a minha irmĂŁ mais velha
casou-se. depois, a minha irmĂŁ mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pĂŽr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmĂŁ mais velha que estĂĄ
na casa dela, menos a minha irmĂŁ mais
nova que estĂĄ na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mĂŁe viĂșva. cada um
deles Ă© um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irĂŁo estar sempre aqui.
na hora de pĂŽr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nĂłs estiver vivo, seremos
sempre cinco.

mil estrelas no colo

mĂŁe, eu sei que ainda guardas mil estrelas no colo.
eu, tantas vezes, ainda acredito que mil estrelas sĂŁo
todas as estrelas que existem.

arte poética

o poema nĂŁo tem mais que o som do seu sentido,
a letra p nĂŁo Ă© a primeira letra da palavra poema,
o poema Ă© esculpido de sentidos e essa Ă© a sua forma,
poema nĂŁo se lĂȘ poema, lĂȘ-se pĂŁo ou flor, lĂȘ-se erva
fresca e os teus lĂĄbios, lĂȘ-se sorriso estendido em mil
ĂĄrvores ou cĂ©u de punhais, ameaça, lĂȘ-se medo e procura
de cegos, lĂȘ-se mĂŁo de criança ou tu, mĂŁe, que dormes
e me fizeste nascer de ti para ser palavras que nĂŁo
se escrevem, LĂȘ-se paĂ­s e mar e cĂ©u esquecido e
memĂłria, lĂȘ-se silĂȘncio, sim tantas vezes, poema lĂȘ-se silĂȘncio,
lugar que nĂŁo se diz e que significa, silĂȘncio do teu
olhar doce de menina, silĂȘncio ao domingo entre as conversas,
silĂȘncio depois de um beijo ou de uma flor desmedida, silĂȘncio
de ti, pai, que morreste em tudo para sĂł existires nesse poema
calado, quem o pode negar?, que escreves sempre e sempre, em
segredo, dentro de mim e dentro de todos os que te sofrem.
o poema nĂŁo Ă© esta caneta de tinta preta, nĂŁo Ă© esta voz,

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