Meteu-me Amor em seu Trato
Meteu-me Amor em seu trato,
Pôs-me os seus gostos na praça,
Quanto quis me deu de graça.
Mas Ă© caro o seu barato.Amor, que quis que tivesse
Os males por seu querer,
Deu menos bem, que escolhesse,
Para que quando os perdesse
Tivesse mais que perder.
Depois que em minha esperança
Me viu contra o tempo ingrato
Viver livre da mudança
Por tão grande confiança
Meteu-me Amor em seu trato.Vi eu logo que convinha
Dar melhor conta do seu
Do que dei da vida minha:
Deixei perder quanto tinha
Por guardar o que me deu.
O desejo e o temor,
A fé, a vontade, a graça,
Tudo pus na mĂŁo de Amor.
Ele que Ă© mais mercador
Pôs-me seus gostos na praça.Entendeu que não sabia
A valia do interesse
Que eu dele entĂŁo pretendia:
Perguntou-me o que queria
Antes que nada me desse.
Eu, que nĂŁo soube o que fiz,
Quis um desprezo e negaça,
Quis uns desdéns senhoris,
E por ser graça o que quis.
Poemas sobre MĂŁos de Francisco Rodrigues Lobo
2 resultadosDescalça Vai para a Fonte
Descalça vai para a fonte,
Leanor pela verdura;
Vai fermosa, e nĂŁo segura.A talha leva pedrada,
Pucarinho de feição,
Saia de cor de limĂŁo,
Beatilha soqueixada;
Cantando de madrugada,
Pisa as flores na verdura:
Vai fermosa, e nĂŁo segura.Leva na mĂŁo a rodilha,
Feita da sua toalha;
Com uma sustenta a talha,
Ergue com outra a fraldilha;
Mostra os pés por maravilha,
Que a neve deixam escura:
Vai fermosa, e nĂŁo segura.As flores, por onde passa,
Se o pé lhe acerta de pôr,
Ficam de inveja sem cor,
E de vergonha com graça;
Qualquer pegada que faça
Faz florescer a verdura:
Vai formosa, e nĂŁo segura.NĂŁo na ver o Sol lhe val,
Por nĂŁo ter novo inimigo;
Mas ela corre perigo,
Se na fonte se vĂŞ tal;
Descuidada deste mal,
Se vai ver na fonte pura:
Vai fermosa, e não segura.Também nós imos já perto da Fonte;
E, Em quanto no cantar nos entretemos,
Temo que a vinda cá pouco nos monte.