Poemas sobre Medo de Manuel Alegre

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O POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO
de Alexandre O’Neill

Os ratos invadiram a cidade
povoaram as casas os ratos roeram
o coração das gentes.
Cada homem traz um rato na alma.
Na rua os ratos roeram a vida.
É proibido não ser rato.

Canto na toca. E sou um homem.
Os ratos nĂŁo tiveram tempo de roer-me
os ratos nĂŁo podem roer um homem
que grita nĂŁo aos ratos.
Encho a toca de sol.
(Cá fora os ratos roeram o sol).
Encho a toca de luar.
(Cá fora os ratos roeram a lua).
Encho a toca de amor.
(Cá fora os ratos roeram o amor).

Na toca que já foi dos ratos cantam
os homens que nĂŁo chiam. E cantando
a toca enche-se de sol.
(O pouco sol que os ratos nĂŁo roeram).

Letra para um hino

É possível falar sem um nó na garganta
Ă© possĂ­vel amar sem que venham proibir
Ă© possĂ­vel correr sem que seja fugir.
Se tens vontade de cantar nĂŁo tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão
Ă© possĂ­vel viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer nĂŁo grita comigo: nĂŁo.

É possível viver de outro modo. É
possĂ­vel transformares em arma a tua mĂŁo.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

NĂŁo te deixes murchar. NĂŁo deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.