Escárnio
O meu amor anda em fama.
Mesmo assim lhe quero bem.
Cegueira? Seja o que for!
Os olhos do meu amor
Não os vejo em mais ninguém.Tentaram deitá-lo à rua,
Mas abri-lhe a minha porta,
E a minha mĂŁo, toda nua,
Varreu toda a noite morta.
Porém, mil vozes, medonhas
Como pedaços de lama,
Segredaram-me vergonhas
Do meu amor que anda em fama.Ai! a dor! — casa florida…
Ai! o amor! — casa cercada.Há-de-se acabar a vida
Com a Ăşltima pedrada!..
Poemas sobre Mil de Pedro Homem de Melo
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DivĂłrcio
Cidade muda, rente a meu lado,
Como um fantasma sob a neblina…
Há cem mil rostos. Tanto soldado
E tanto abraço desesperado
Nesta cidade tĂŁo masculina!Cidade muda como um soldado.
Cidade cega. Todos os dias,
A nossa vida fica mais breve,
As nossas mĂŁos ficam mais frias…
Todos os dias, todos os dias,
A morte paga, paga a quem deve.Cidade cega todos os dias.
Cidade oblĂqua. Sexo pesado.
Rio de cinza, lĂşgubre e lento…
Bandeira negra, barco parado,
Nunca o teu nome foi baptizado
Nem o teu beijo foi casamento!Cidade minha, do meu pecado…
Cidade estranha, sabes que existo?
Os homens passam… Para onde vĂŁo?
SĂł tem amores quem nĂŁo for visto.
Por isso canto, sĂł porque insisto
Em dar combates à tentação.Oh! a volúpia de não ser visto!