Noite de Natal
[A um pequenito, vendedor de jornais]
Bairro elegante, – e que miséria!
Roto e faminto, à luz sidéria,
O pequenito adormeceu…Morto de frio e de cansaço,
As mãos no seio, erguido o braço
Sobre os jornais, que não vendeu.A noite é fria; a geada cresta;
Em cada lar, sinais de festa!
E o pobrezinho não tem lar…Todas as portas já cerradas!
Ó almas puras, bem formadas,
Vede as estrelas a chorar!Morto de frio e de cansaço,
As mãos no seio, erguido o braço
Sobre os jornais, que não vendeu,Em plena rua, que miséria!
Roto e faminto, à luz sidéria,
O pequenito adormeceu…Em torno dele – ó dor sagrada!
Ao ver um círculo sem geada
Na sua morna exalação,Pensei se o frio descaroável
Do pequenino miserável
Teria mágoa e compaixão…Sonha talvez, pobre inocente!
Ao frio, à neve, ao luar mordente,
Com o presépio de Belém…Do céu azul, às horas mortas,
Nossa Senhora abriu-lhe as portas
E aos orfãozinhos sem ninguém…
Poemas sobre Miséria de António Feijó
2 resultadosHino à Beleza
Onde quer que o fulgor da tua glória apareça,
— Obra de génio, flor de heroísmo ou santidade, —
Da Gioconda imortal na radiosa cabeça,
Num acto de grandeza augusta ou de bondade,— Como um pagão subindo à Acrópole sagrada,
Vou de joelhos render-te o meu culto piedoso,
Ou seja o Herói que leva uma aurora na Espada,
Ou o Santo beijando as chagas do Leproso.Essa luz sem igual com que sempre iluminas
Tudo o que existe em nós de grande e puro, veio
Do mesmo foco em mil parábolas divinas:
— Raios do mesmo olhar, ânsias do mesmo seio.Alta revelação que, baixando em segredo,
O prisma humano quebra em ângulos dispersos,
Como a água a cair de rochedo em rochedo
Repete o mesmo som, mas em modos diversos.É audácia no Herói; resignação no Santo;
Som e Cor, ondulando em formas imortais;
No mármore rebelde abre em folhas de acanto,
E esmalta de candura a flora dos vitrais.Ó Beleza! Ó Beleza! as Horas fugitivas
Passam diante de ti, aladas como sonhos…