Poemas sobre Montanhas de CecĂ­lia Meireles

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Se te Abaixasses, Montanha

Se te abaixasses, montanha,
poderia ver a mĂŁo
daquele que nĂŁo me fala
e a quem meus suspiros vĂŁo.

Se te abaixasses, montanha,
poderia ver a face
daquele que se soubesse
deste amor talvez chorasse.

Se te abaixasses, montanha,
poderia descansar.
Mas nĂŁo te abaixes, que eu quero
lembrar, sofrer, esperar.

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve. . .

— mas só esse eu não farei.

Uma palavra caĂ­da
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes..

— palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

— que amargamente inventei.

E, enquanto nĂŁo me descobres,
os mundos vĂŁo navegando
nos ares certos do tempo,
atĂ© nĂŁo se sabe quando…

— e um dia me acabarei.

SolidĂŁo

Imensas noites de Inverno,
com frias montanhas mudas,
Ă© o mar negro, mais eterno,
mais terrĂ­vel, mais profundo.

(…)

A noite fecha seus lábios
– terra e cĂ©u – guardado nome.
E os seus longos sonhos sábios
geram a vida dos homens.

Geram os olhos incertos,
por onde descem os rios
que andam nos campos abertos
da claridade do dia.