ConfissĂŁo
É certo que me repito,
Ă© certo que me refuto
e que, decidido, hesito
no entra-e-sai de um minuto.É certo que irresoluto
entre o velho e o novo rito
atiro Ă cesta o absoluto
como inútil papelito.É tão certo que me aperto
numa tenaz de mosquito
como Ă© trinta vezes certo
que me oculto no meu grito.Certo, certo, certo, certo
que mais sinto que reflicto
as fábulas do deserto
do raciocĂnio infinito.É tudo certo e prescrito
em nebuloso estatuto.
O homem, chamar-lhe mito
nĂŁo passa de anacoluto.
Poemas sobre Mosquitos
2 resultadosA um Mosquito
InvencĂvel mosquito,
Émulo do mais livre pensamento,
Sem corpo, e de todo espĂrito,
Que deste fim a um tĂŁo alto intento,
Quando precipitado
O céu de Délia acometeste ousado.As portas de diamante
Cerradas ao clamor de tanta gente
Abriste triunfante,
Zombando da esperança impertinente,
Que entre temor, e espanto
Nunca acabou comigo esperar tanto.Cupido, que inquieta
DĂ©lia sentiu ferida,
Espera, que o sinta,
A lança, que tiraste em sangue tinta,
Que o peito endurecido
É prova das setas de Cupido.Porém de nada disto
Te mostres tĂŁo soberbo, e presumido,
Que podes sem ser visto
Passar a mais ferir, sem ser sentido,
E para castigar-te,
NĂŁo ocupas lugar nalguma parte.Foras de amor ferido,
Se tivera o teu erro algum desconto,
Ou se achara Cupido
Aonde a ponta da seta pĂ´r o ponto.
Condolação bastante;
Pois nĂŁo picaste a DĂ©lia como amante.Buscaste a noite escura
Por cometer a DĂ©lia mais oculto;
Quem medo te afigura,
Se nĂŁo faz o teu corpo nenhum vulto,