Poemas sobre Mundo de Al Berto

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Poemas de mundo de Al Berto. Leia este e outros poemas de Al Berto em Poetris.

Corpo

corpo
que te seja leve o peso das estrelas
e de tua boca irrompa a inocĂȘncia nua
dum lĂ­rio cujo caule se estende e
ramifica para lĂĄ dos alicerces da casa

abre a janela debruça-te
deixa que o mar inunde os ĂłrgĂŁos do corpo
espalha lume na ponta dos dedos e toca
ao de leve aquilo que deve ser preservado

mas olho para as mĂŁos e leio
o que o vento norte escreveu sobre as dunas

levanto-me do fundo de ti humilde lama
e num soluço da respiração sei que estou vivo
sou o centro sĂ­smico do mundo

Rumor dos Fogos

hoje Ă  noite avistei sobre a folha de papel
o dragĂŁo em celulĂłide da infĂąncia
escuro como o interior polposo das cerejas
antigo como a insĂłnia dos meus trinta e cinco anos…

dantes eu conseguia esconder-me nas paisagens
podia beber a humidade aérea do musgo
derramar sangue nos dedos magoados
foi hĂĄ muito tempo
quando corria pelas ruas sem saber ler nem escrever
o mundo reduzia-se a um berlinde
e as mĂŁos eram pequenas
desvendavam os nocturnos segredos dos pinhais

nĂŁo quero mais perceber as palavras nem os corpos
deixou de me pertencer o choro longĂ­nquo das pedras
prossigo caminho com estes ossos cor de malva
som a som o vegetal silĂȘncio sĂ­laba a sĂ­laba o abandono
desta obra que fica por construir… o receio
de abrir os olhos e as rosas nĂŁo estarem onde as sonhei
e teu rosto ter desaparecido no fundo do mar

ficou-me esta mĂŁo com sua sombra de terra
sobre o papel branco… como Ă© louca esta mĂŁo
tentando aparar a tristeza antiga das lĂĄgrimas