Como Realiza o Corpo este Exercício da Queda
Como realiza o corpo este exercício
da queda no súbito conhecimento
do espanto, quando os olhos estão vencidos,
cerrados pela transparência e pela luz
ofuscante da alva? À medida que o corpo
seca e se aplacam os seus, outrora, amáveis
dons, se ensombram os ossos, míseras as mãos
emagrecidas e se desnuda a carne
no fundo fôlego das águas, aumenta
o assombro da claridade. Só a vida
gerou o tempo, eis que ausente, ao resplendor
inesperado da luz descida. Onde vai
o humilde corpo, se corpo resta ou se outro,
receber a miraculosa mudança
de nada existir a não ser o profundo
bando do grito terrível de todos
os mortos? Ah, que estupor sela os músculos,
enrijece as unhas e aspira a voz,
resfria o suor e nos conduz, inertes
e cegos, ao núcleo da luz deslumbrante?
Ó mar de que futuro, rumor volúvel,
sopro claro, envolve-nos de compaixão!
Poemas sobre Músculos de Orlando Neves
2 resultados Poemas de músculos de Orlando Neves. Leia este e outros poemas de Orlando Neves em Poetris.
Todas as Noites me Sinto
Todas as noites me sinto
igual aos desconhecidos.
Sou a criança que sou,
só quando o tempo pára.Fico em mim,
fora dos músculos.Por que se movem os deuses
quando o sol cresta as formigas?
Lendas da luz da noite
secam todo o movimento.Seguro a vida
por desespero.