Eu Digo do Amor nĂŁo Mais que a Sombra
Eu digo do amor nĂŁo mais que a sombra.
Agora o quarto oferece toda a inclinação da luz
aos dedos que tremem sĂł de aflorar
o que da carne Ă© jĂĄ incorruptĂvel saber
e crispação sem causa natural.
SĂŁo nossas inimigas as cortinas
amplas do verĂŁo, os fumos e vapores
que esta terra nos devolve, a fria
repercussĂŁo do espĂrito que treme
sobre um tĂŁo ausente e despossuĂdo mundo.
Disse-te que voltasses devagar os teus olhos
para o mecanismo simples da erosĂŁo.
Eu parti hĂĄ muito e neste quarto
apenas aguardo o relĂąmpago surdo do teu corpo,
a contenção muda e não menos esplendorosa
da carne recordada e pressentida.
No entanto, deixĂĄmos escurecer
excessivamente o mundo. Ele acolhe-se
a nĂłs, com terror e evidĂȘncia,
e nĂłs, em verdade, que podemos dizer?
Eu digo do amor nĂŁo mais que a sombra,
mas o teu rosto e a luz nada pode conter.
Poemas sobre Naturais de LuĂs Filipe Castro Mendes
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