A um Amigo
Fiel ao costume antigo,
Trago ao meu jovem amigo
Versos prĂłprios deste dia.
E que de os ver tĂŁo singelos,
TĂŁo simples como eu, nĂŁo ria:
Qualquer os farĂĄ mais belos,
NinguĂ©m tĂŁo dâalma os faria.Que sobre a flor de seus anos
Soprem tarde os desenganos;
Que em torno os bafeje amor,
Amor da esposa querida,
Prolongando a doce vida
Fruto que suceda Ă flor.Recebe este voto, amigo,
Que eu, fiel ao uso antigo,
Quis trazer-te neste dia
Em poucos versos singelos.
Qualquer os farĂĄ mais belos,
NinguĂ©m tĂŁo dâalma os faria.
Poemas sobre Ninguém de Almeida Garrett
5 resultadosDestino
Quem disse Ă estrela o caminho
Que ela hå-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como Ă© que a ave aprendeu?
Quem diz à planta «Florece!»
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se Ă flor branca ou Ă vermelha
O seu mel hĂĄ-de ir pedir?
Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem…
Ai!, não mo disse ninguém.Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino .
Vim cumprir o meu destino…
Vim, que em ti sĂł sei viver,
SĂł por ti posso morrer.
Preito
Ă lei do tempo, Senhora,
Que ninguém domine agora
E todos queiram reinar.
Quanto vale nesta hora
Um vassalo bem sujeito,
Leal de homenage e preito
E fĂĄcil de governar?Pois o tal sou eu, Senhora:
E aqui juro e firmo agora
Que a um despĂłtico reinar
Me rendo todo nesta hora,
Que a liberdade sujeito…
NĂŁo a reis! – outro Ă© meu preito:
Anjos me hĂŁo-de governar.
Rosa sem Espinhos
Para todos tens carinhos,
A ninguém mostras rigor!
Que rosa Ă©s tu sem espinhos?
Ai, que nĂŁo te entendo, flor!Se a borboleta vaidosa
A desdém te vai beijar,
O mais que lhe fazes, rosa,
Ă sorrir e Ă© corar.E quando a sonsa da abelha,
TĂŁo modesta em seu zumbir,
Te diz: «à rosa vermelha,
» Bem me podes acudir:» Deixa do cålix divino
» Uma gota sĂł libar…
» Deixa, é néctar peregrino,
» Mel que eu nĂŁo sei fabricar …»Tu de lĂĄstima rendida,
De maldita compaixĂŁo,
Tu Ă sĂșplica atrevida
Sabes tu dizer que nĂŁo?Tanta lĂĄstima e carinhos,
Tanto dĂł, nenhum rigor!
Ăs rosa e nĂŁo tens espinhos!
Ai !, que nĂŁo te entendo, flor.
Perfume da Rosa
Quem bebe, rosa, o perfume
Que de teu seio respira?
Um anjo, um silfo? ou que nume
Com esse aroma delira?Qual Ă© o deus que, namorado,
De seu trono te ajoelha,
E esse néctar encantado
Bebe oculto, humilde abelha?– NinguĂ©m? – Mentiste: essa frente
Em languidez inclinada,
Quem ta pĂŽs assim pendente?
Dize, rosa namorada.E a cor de pĂșrpura viva
Como assim te desmaiou?
e essa palidez lasciva
Nas folhas quem ta pintou?Os espinhos que tĂŁo duros
Tinhas na rama lustrosa,
Com que magos esconjuros
Tos desarmam, Ăł rosa?E porquĂȘ, na hĂĄstea sentida
Tremes tanto ao pĂŽr do sol?
Porque escutas tĂŁo rendida
O canto do rouxinol?Que eu nĂŁo ouvi um suspiro
Sussurrar-te na folhagem?
Nas ĂĄguas desse retiro
NĂŁo espreitei a tua imagem?NĂŁo a vi aflita, ansiada…
– Era de prazer ou dor? –
Mentiste, rosa, Ă©s amada,
E também tu amas, flor.Mas ai! se não for um nume
O que em teu seio delira,