Poemas sobre Noite de Armando CĂ´rtes-Rodrigues

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Vozes da Noite

Vozes na Noite! Quem fala
Com tanto ardor, tanto afĂŁ?
Falou o Grilo primeiro,
Logo depois foi a RĂŁ.

Pobre loucura dos homens
Quando julgam entendê-las…
SĂł eles pasmam os olhos
Neste encanto das estrelas…

Lá no silêncio dos campos
Ou no mais ermo da serra,
Na voz das rĂŁs dala a Ă gua,
Na voz dos grilos a Terra.

SĂł eles cantam a vida
Com amor e singeleza,
Por ser descuidada, alegre;
Por ser simples, com beleza.

Pudesse agora dizer-te,
Sem ser por palavras vĂŁs,
O que diz a voz dos grilos,
O que diz a voz das rĂŁs.

Ergo Meus Olhos

Ergo meus olhos vagos, na distância
Da sombra do meu Ser…
Pairam de mim além, e a minha Ânsia
Cansa de me viver.

Meus olhos espectrais de comoção,
Olhos da alma, olhando-se a si,
Nimbam de luz a longa escuridĂŁo
Da vida que vivi.

Auréola de Dor, que finaliza
Na noite do abismo do meu nada;
SilĂŞncio, prece, comunhĂŁo sagrada,
Sombra de luz que em Ti me diviniza,
Tortura do meu fim,
Alma ungida
E perdida
Na grandeza de Si. E já sem ver-me,
Maceração crepuscular de Mim,
Agonizo de Ser-me.

Sinfonia de Cor

Sempre defronte
de mim
o mar azul, o mar imenso, o mar sem fim,
todo igual e azul até ao horizonte.

Neste dia delirante
de luz crua a jorrar, intensa, lá do alto,
uma vela distante
mancha de branco o seu azul-cobalto.

Um traço de espuma branca
junto Ă  penedia
marca a linha da costa em enseada franca.

E a nota branca
das gaivotas em bando,
esvoaçando
Ă  revelia,
e um ritmo novo de alegria,
de ruído e de graça.

Perto uma vela passa,
lenço branco a acenar…

Não ter asas também para poder voar
aonde me levasse a minha fantasia!
E ser gaivota e mergulhar
na água e bater asas,
alegre, todo o dia!

Poisar nos calhaus negros, que sĂŁo brasas,
brasas negras a arder,
e ver aos pés a referver
aos borbotões de espuma.

Dar um grito e subir,
subir alto e distante,
já quando a terra se esfuma
e o mar aumenta, quanto mais avante.

Partir!

Partir para o delĂ­rio das alturas,

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