Testamento Aberto
SĂł para ver curar minhas pernas partidas
Nas dores eternas
Dos saltos gorados,
Eu amo a aparente inconsciĂŞncia dos loucos,
Embora fique aos poucos nos meus saltos
Desabridos e falhados.Apraz-me, no espelho, esta face esmagada,
À força de querer transpor o além
Da minha porta fechada…PorĂ©m,
Seja o que for, que seja,
Se uma CERTEZA alcanço
E uma mulher me beija.Que importa
Que eu fique molemente olhando a minha porta
Aberta,
Ou que eu parta e a morte me espreite
Num desfiladeiro?…
E quem virá chorar e quem virá,
Se a morte que vier for a de lá
Certeira e minha…
E merecida como um sono que se dorme
ApĂłs a noite perdida?…E que piedade anda a escrever um frágil,
Na embalagem dos ossos
Que trago emprestados…
Que deixarei ficar ao sol e Ă chuva
E que serĂŁo limados
No entulho dos calhaus que tambĂ©m foram rocha?…Para quĂŞ, se mil vezes provoco
Os tombos do chegar e do partir?!
–
Poemas sobre Noite de PolĂbio Gomes dos Santos
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Poema da Voz que Escuta
Chamam-me lá em baixo.
SĂŁo as coisas que nĂŁo puderam decorar-me:
As que ficaram a mirar-me longamente
E nĂŁo acreditaram;
As que sem coração, no relâmpago do grito,
NĂŁo puderam colher-me.
Chamam-me lá em baixo,
Quase ao nĂvel do mar, quase Ă beira do mar,
Onde a multidĂŁo formiga
Sem saber nadar.
Chamam-me lá em baixo
Onde tudo Ă© vigoroso e opaco pelo dia adiante
E transparente e desgraçado e vil
Quando a noite vem, criança distraĂda,
Que debilmente apaga os traços brancos
Deste quadro negro – a Vida.
Chamam-me lá em baixo:
Voz de coisas, voz de luta.
É uma voz que estala e mansamente cala
E me escuta.