Poema Explicativo
InĂșteis sĂŁo os voos. InĂșteis sĂŁo os pĂĄssaros.
Silenciosas sombras tudo extinguem.
Como as vagas de um mar longĂnquo e frio,
sĂŁo de inĂșteis palavras estes versos,
pois o calado tempo esmaga tudo.Moro num rio inĂștil que caminha
entre margens de musgo e subalternas
pontes e ĂĄguas que reflectem
estrelas, luminĂĄrias, desencanto.Os peixes nĂŁo obstante jĂĄ nĂŁo dormem.
SĂŁo inĂșteis os sonhos e as amarras
que nos prendem ao cais.
E o sangue que nos leva
em artĂ©rias elĂ©ctricas de desejo.JĂĄ somos todos poetas â e a poesia Ă© inĂștil â
antepassados simples de um futuro
remoto onde seremos sinais na rocha, apenas.GerminarĂĄ o trevo entre os alexandrinos
e nenhum pĂĄssaro compreenderĂĄ o sentido
das pĂĄginas dispersas sobre a areia.Estas palavras nuas se transformarĂŁo
em pĂł, em lodo, em traças e raĂzes.
Poemas sobre Nus de Domingos Carvalho da Silva
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Areia e Fonte
Foste a primeira que vi
logo que as ĂĄguas baixaram
nos campos que cultivei,
nos bosques onde caçava.Dos arbustos que cobriam
a negra pele do monte
cortei ramos e adornei-te
de aroma e cores a fronte.Saltou, na alcova de relva
e traves de lua cheia,
meu corpo sobre teu corpo
como a fonte sobre a areia.Do opaco do teu cabelo
vestiu-se a noite. O marfim
de teus peitos reluzia
na chama que ardia em mim.Morreu a chama. Fugiste
nua, sobre as corças nuas
desses pés com que caminha
meu filho por nove luas.