De MemĂłria
Nunca te surpreendeu o sorriso estático
das imagens antigas? Alguma coisa aqui
tivemos de perder. Percorro dias e corpos na memĂłria,
mas o que procuro mais é não te ver.Quem ama quem? As máscaras trocaram-se
e a tua voz ressoa neste palco.
Trouxe versos e mĂşsica para te dar,
mas o rosto que tivemos já partiu;
fiquei eu sĂł, Ă beira da memĂłria,
água do mar que não serve para beber.Porque esta foi a paixão, o grande acto,
a tĂmida paixĂŁo de asas de chumbo.
Eu vi-te muitas vezes frente ao mar,
mas quem de nĂłs para acender a cinza?
– ronda-nos a ave de presa despojada
sobre os malefĂcios. Aliás, coisas passadas.NĂŁo te surpreendeu? O amor
surpreende – nĂŁo convĂ©m, desarruma.
E nunca se ama ao certo quem se ama.
Procuramos apenas um brilho,
um brilho muito intenso no olhar,
um brilho que nĂŁo vamos definir
e que algum dia iremos renegar.
Poemas sobre Olhar de LuĂs Filipe Castro Mendes
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Romance de NĂłs
Estou Ă beira do mar,
estou Ă beira de ti.
Ardem no meu olhar
os sonhos que nĂŁo vi.
Tudo em nós foi naufrágio,
nĂŁo quisemos saber:
fizemos nosso adágio
do que nĂŁo pĂ´de ser.
Que resta do amor
a quem Ă© como nĂłs?
Envergonha-me pĂ´r
em verso: «somos sós;
sĂłs como amanhecer
Ă s avessas do mundo;
sĂłs como podem ser
as areias no fundo;
somos sĂłs e sabĂŞ-lo
Ă© negar o pronome
que de nĂłs fez novelo
e por nós se consome».