Pesada Noite
A noite cai de bruços,
cai com o peso fundo do cansaço,
cai como pedra, como braço,
cai como um século de cera,
aos tombos, aos soluços,
entre a maçã maciça e a perene pêra,
entre a tarde e o crepĂşsculo,
dilatação da madrugada, elástica,
cai, de borracha,
imitação de músculo,
cai, parecendo que se agacha
na sombra, e feminina, e ágil
salta, com molas de ginástica
nos pés, o abismo
do presságio,
a noite, essa mandĂbula do trismo,
tétano e espasmo,
ao mesmo tempo, a noite
amorosa, Ă espreita do orgasmo,
ferina, mas também açoite,
contraditĂłria
como existir esquecimento
no Ăntimo do homem,
na intimidade viva da memĂłria,
reminiscĂŞncias que o consomem
fugindo com o vento,
a noite, a noite acata
tudo que ocorre,
tanto aquele que mata
quanto aquele que morre,
a noite, a sensação e aguda
de um sono
fechando os olhos, invencĂvel
como fera que estuda
a vĂtima, abandono
completo, fuga, salto
nas garras do impossĂvel,
a noite pétrea do basalto,
Poemas sobre Olhos de Octávio Mora
2 resultados Poemas de olhos de Octávio Mora. Leia este e outros poemas de Octávio Mora em Poetris.
Onde o Mar Falta
Entreabertas as pernas, e pousada
de leve, sobre os ombros, a cabeça,
parecias Ă s vezes, derramada
no fundo, mais espessa.E eras lĂquida: vias, atravĂ©s
de tua prĂłpria sombra transparente
a luminosidade dos teus pés,
alados. Porque ausente.Jamais dizias nada. Sempre tinhas
entre os lábios, a voz silenciosa
dos que voltam. Onda apĂłs onda, vinhas
(e vens) misteriosa.Desde a profundidade, do mar. Brusco
nas suas reacções, onde o mar falta
sob as ondas, aĂ, aĂ te busco —
e Ă©s, como as ondas, alta.Quando olho o horizonte: quando tudo
se dissolve em si mesmo e, onda apĂłs
onda, me calo. Vejo, e estou mudo.
O mar na tua voz.Porque vias o mar (tinhas o mar
no olhar) fechando os olhos. E defronte
o vĂamos surgir. Bastava olhar,
que tudo era horizonte.