Dia de Natal

Hoje Ă© dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros – coitadinhos – nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que nĂŁo merecem,
de meditar sobre a nossa existĂȘncia, tĂŁo efĂ©mera e tĂŁo sĂ©ria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o CĂ©u
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa excelĂȘncia verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?)
NĂŁo seja estĂșpido! Compre imediatamente um relĂłgio de pulso antimagnĂ©tico.)
Torna-se difĂ­cil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente acotovela,

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