Poemas sobre Ouro

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Poemas de ouro escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Ultima Serenada do Diabo

No tempo em que elle, nas lendas,
Era amante e cortezĂŁo,
Jogava, e tinha contendas,
Cantava assim em MilĂŁo:

……………………………………
……………………………………
……………………………………

Ă“ flores meigas, Ăł Bellas!
Para prender os toucados,
Eu dar-vos-hia as estrellas:
– Os alfinetes dourados!

SĂł pelo amor quebro lanças! –
A Rainha de Navarra
Enleou um dia as tranças
No braço d’esta guitarra!

Sou um heroe perseguido!…
Mas inda ha luz nos meus rastros;
A lança que me ha ferido
Foi feita do ouro dos astros!

Mas um dia, Ăł bem amadas!
Eu tornaria ás alturas…
Subindo pelas escadas
Das vossas tranças escuras!

O amor que em meu peito cabe
NĂŁo conta diques, Ăł bellas!
SĂł minha guitarra o sabe,
E aquellas velhas estrellas!

Ă“ batalhas amorosas!
– Era d’aventuras cheia!
Ă“ brancas noutes saudosas
Que eu andei pela Judea!

Ă“ flores apetecidas!
Livros escriptos com beijos!
Ă“ brancas aves fugidas
Dos jardins dos meus desejos!

NĂŁo me deixeis no abandono
Ă“ tristes olhos leaes!

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Carta (a um Amigo que me Pediu Versos)

Como hei-de ser um Petrarca,
Cantar como um rouxinol,
Se o meu termĂłmetro marca
Quarenta e dois graus ao sol!

Da lira bárbara e tosca
Nem saem trovas d’Alfama.
Enxota o PĂ©gaso a mosca,
E eu durmo a sesta na cama.

A hipocondria maciça
Conduzo-a, não há remédio,
Na jumenta da preguiça
Pelas charnecas do tédio.

Eu trago a inspiração oca,
Ando abatido, ando mono;
Meus versos abrem a boca,
Como os porteiros com sono.

NĂŁo tenho a rima imprevista,
Os guizos d’oiro ou de opala,
Que Ă  asa da estrofe o artista
Sublime prende ao largá-la.

P’ra lapidar Ă  vontade
Um belo verso radiante,
Falta-me a tenacidade,
Que Ă© como o pĂł do diamante.

A musa foi-se-me embora;
Para onde foi nem me lembro;
SĂł a torno a ver agora
Lá para os fins de Setembro.

Anda talvez nas florestas
Fazendo orgias pagĂŁs,
Entre os aromas das giestas
E os braços dos Egipãs.

Deixá-la andar lá dois meses
Colhendo imagens e flores,

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Ilumina-se a Igreja por Dentro da Chuva

Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,
E cada vela que se acende Ă© mais chuva a bater na vidraça…

Alegra-me ouvir a chuva porque ela Ă© o templo estar aceso,
E as vidraças da igreja vistas de fora sĂŁo o som da chuva ouvido por dentro …

O esplendor do altar-mor Ă© o eu nĂŁo poder quase ver os montes
AtravĂ©s da chuva que Ă© ouro tĂŁo solene na toalha do altar…

Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça
E sente-se chiar a água no fato de haver coro…

A missa Ă© um automĂłvel que passa
AtravĂ©s dos fiĂ©is que se ajoelham em hoje ser um dia triste…
SĂşbito vento sacode em esplendor maior
A festa da catedral e o ruĂ­do da chuva absorve tudo
Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe
Com o som de rodas de automĂłvel…

E apagam-se as luzes da igreja
Na chuva que cessa …

Retrato de D. Leonor de Sá

Criava-se Leonor, crescendo sempre
Em suma perfeição, suma beleza,
E crescendo só nela as outras graças
Por grandes fermosuras repartidas,
Produziam-se dos seus fermosos olhos
Efeitos mil, e extremos diferentes,
Que olhando davam vida, e outras vezes
Olhando cem mil vidas destruĂ­am.
A branca cor do rosto acompanhada
De uma cor natural honesta e pura,
E a cabeça de crespo ouro coberta,
Lembrança do mais alto céu faziam.
PraxĂ­teles nem FĂ­dias nĂŁo lavraram
De branquíssimo mármore igual corpo;
Nem aquele, que Zuxis entre tantas
Fermosuras deixou por mais perfeito,
NĂŁo se igualava a este, antes ficava
Abatido, e julgado em pouco preço;
Que mal pode igualar-se humano engenho
Co’aquilo, em que Deus tal saber nos mostra.
Da boca o suave riso alegra os ares,
Mostrando entre rubis orientais perlas
E sobre tudo, quanto a natureza
Lhe deu perfeito, a graça se avantaja.
No peito ebĂşrneo as pomas, que em brancura
Levam da neve o justo preço e a palma,
Apartando-se, deixam de açucena
AlvĂ­ssima um florido e fresco vale.
Quem pode (sem perder-se) louvar cousa
Onde nĂŁo chega humano entendimento?

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VerĂŁo

Eu te chamo tumulto
e virei sobre ti
ao fogo dos frutos
na hora em que a polpa da tarde
fende
e pelo campo escorrem farelos de ouro
Ă  luz azul da bruma.

Para ti alço
com a rigidez de um bico,
garras, cĂłrneas, penas descendo
em teu tremor,
instante todo de corpo a nĂŁo ser
mais que carcassa, maré, esvaimento.

E quando, inerte
— casca ou pele, gretado
o teu querer nĂŁo for mais que apetĂŞncia
ou saudade,
o sangue a escorrer ainda
escondendo os talos da grama mais pequena,
há-de permanecer aos olhos que o não vêem
Ă­ntimo sinal de uniĂŁo
entre a fĂŞmea e o macho
— o que penetra
e quanto, deixando penetrar
inaugura.

O Ăšltimo NegĂłcio

Certa manhĂŁ
ia eu pelo caminho pedregoso,
quando, de espada desembainhada,
chegou o Rei no seu carro.
Gritei:
— Vendo-me!
O Rei tomou-me pela mĂŁo e disse:
— Sou poderoso, posso comprar-te.
Mas de nada lhe serviu o seu poder
e voltou sem mim no seu carro.

As casas estavam fechadas
ao sol do meio dia,
e eu vagueava pelo beco tortuoso
quando um velho
com um saco de oiro Ă s costas
me saiu ao encontro.
Hesitou um momento, e disse:
— Posso comprar-te.
Uma a uma contou as suas moedas.
Mas eu voltei-lhe as costas
e fui-me embora.

Anoitecia e a sebe do jardim
estava toda florida.
Uma gentil rapariga
apareceu diante de mim, e disse:
— Compro-te com o meu sorriso.
Mas o sorriso empalideceu
e apagou-se nas suas lágrimas.
E regressou outra vez Ă  sombra,
sozinha.

O sol faiscava na areia
e as ondas do mar
quebravam-se caprichosamente.
Um menino estava sentado na praia
brincando com as conchas.
Levantou a cabeça
e,

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A Mulher Mais Bonita do Mundo

estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.

entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.

entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.

há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.

estás tão bonita hoje.

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

de encontro ao silĂŞncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.

A Rainha

Nomeei-te rainha.
Há maiores do que tu, maiores.
Há mais puras do que tu, mais puras.
Há mais belas do que tu, há mais belas.

Mas tu Ă©s a rainha.

Quando andas pelas ruas
ninguém te reconhece.
Ninguém vê a tua coroa de cristal, ninguém olha
a passadeira de ouro vermelho
que pisas quando passas,
a passadeira que nĂŁo existe.

E quando surges
todos os rios se ouvem
no meu corpo,
sinos fazem estremecer o céu,
enche-se o mundo com um hino.

SĂł tu e eu,
sĂł tu e eu, meu amor,
o ouvimos.

Quarenta Anos

Blocos de ouro branco na boca
fios de prata na barba
Ă“ tempo
me torno valioso
e nĂŁo me valho

Diz que amor Ă© urgente mas nĂŁo corro
diz que a vida Ă© agora mas nĂŁo ardo
nĂŁo tenho pressa
diante de mim, no
espelho

Ostento, claro, uma testa mais larga
porém quem disse
que me tornei mais
sábio?

Desafogo

Onde estás, oh Filósofo indefesso
Pio sequaz da rĂ­gida Virtude,
TĂŁo terna a alheios, quanto a si severa?
Com que mágoa, com que ira olharas hoje
Desprezada dos homens, e esquecida
Aquela ânsia, que em nós pousou Natura
No âmago do peito, — de acudir-nos
Co’as forças, c’o talento, co’as riquezas
Ă€ pena, ao desamparo do homem justo!
Que (baldĂŁo da fortuna inĂ­qua) os Deuses
Puseram para símbolo do esforço,
Lutando a braços c’o áspero infortĂşnio?
Pedra de toque em que luzisse o ouro
De sua alma viril, onde encravassem
Seus farpões mais agudos as Desgraças,
E os peitos de virtude generosa
Desferissem poderes de árduo auxílio?
Que nunca os homens sĂŁo mais sobre-humanos
Mais comparados c’os sublimes Numes,
Que quando acodem com socorro activo,
NĂŁo manchado de sĂłrdido interesse,
Nem do fumo de frĂ­vola ufania;
Ou cheios de valor e de constância
Arrostam co’a medonha catadura
Da Desgraça, que apura iradas mágoas
Na casa nua do varĂŁo honesto.
Mas Grécia e Roma há muito que acabaram;
E as cinzas dos HerĂłis fortes e humanos,

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Primavera

O sol vae esmolando os campos com bĂ´dos de oiro.

A pastorinha aquecida vae de corrida a mendigar a sombra do chorĂŁo corcunda, poeta romantico que tem paixĂŁo p’la fonte.

Espreita os campos, e os campos despovoados dão-lhe licença para ficar núa. Que leves arrepios ao refrescar-se nas aguas! Depois foi de vez, meteu-se no tanque e foi espojar-se na relva, a seccar-se ao sol. Mas o vento que vinha de lá das Azenhas-do-Mar, trazia peccados
comsigo. Sentiu desejos de dar um beijo no filho do Senhor Morgado. E lembrou-se logo do beijo da horta no dia da feira. Fechou os olhos a cegar-se do mau pensamento, mas foi lembrar-se do
proprio Senhor Morgado á meia noite ao entrar na adega. Abanou a fronte para lhe fugir o peccado, mas foi dar comsigo na sachristia a deixar o Senhor Prior beijar-lhe a mĂŁo, e depois a testa… porque Deus Ă© bom e perdĂ´a tudo… e depois as faces e depois a bocca e depois… fugiu… NĂŁo devia ter fugido… E agora o moleiro, lá no arraial, bailando com ella e sem querer, coitado, foi ter ao moinho ainda a bailar com ella. E lembra-se ainda –

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Enterro de Luxo

Lá vai o enterro de luxo
puxado por sete cavalos
lá vai a rosa de plástico
na lapela do cadáver.

Lá vai o defunto imberbe
boiando em madeira nobre
lá vai a língua bilingue
com seu sotaque podre.

Lá vai o queixo amarrado
lá vai a gravata oblíqua
montada na escorreguenta
garupa da metafĂ­sica.

Lá vai o enterro de luxo
lá vai a conta bancária
lá vai a calva engomada
lá vai o ouro da cárie.

Lá vai o enterro de luxo
levado por ventos negros
lá vão os pendões de luto
com seus narizes alegres.

Lá vai o enterro de luxo
lá vai o perfil de árabe
tangido pra correnteza
volĂşvel da eternidade.

Romance

Para as Festas da Agonia
Vi-te chegar, como havia
Sonhado já que chegasses:
Vinha teu vulto tĂŁo belo
Em teu cavalo amarelo,
Anjo meu, que, se me amasses,
Em teu cavalo eu partira
Sem saudade, pena, ou ira;
Teu cavalo, que amarraras
Ao tronco de minha glĂłria
E pastava-me a memĂłria,
Feno de ouro, gramas raras.
Era tão cálido o peito
Angélico, onde meu leito
Me deixaste entĂŁo fazer,
Que pude esquecer a cor
Dos olhos da Vida e a dor
Que o Sono vinha trazer.
TĂŁo celeste foi a Festa,
TĂŁo fino o Anjo, e a Besta
Onde montei tĂŁo serena,
Que posso, Damas, dizer-vos
E a vĂłs, Senhores, tĂŁo servos
De outra Festa mais terrena —

NĂŁo morri de mala sorte,
Morri de amor pela Morte.

Ăšltima Folha

Musa, desce do alto da montanha
Onde aspiraste o aroma da poesia,
E deixa ao eco dos sagrados ermos
A Ăşltima harmonia.

Dos teus cabelos de ouro, que beijavam
Na amena tarde as virações perdidas,
Deixa cair ao chĂŁo as alvas rosas
E as alvas margaridas.

VĂŞs? NĂŁo Ă© noite, nĂŁo, este ar sombrio
Que nos esconde o céu. Inda no poente
Não quebra os raios pálidos e frios
O sol resplandecente.

Vês? Lá ao fundo o vale árido e seco
Abre-se, como um leito mortuário;
Espera-te o silĂŞncio da planĂ­cie,
Como um frio sudário.

Desce. Virá um dia em que mais bela,
Mais alegre, mais cheia de harmonias,
Voltes a procurar a voz cadente
Dos teus primeiros dias.

Então coroarás a ingênua fronte
Das flores da manhã, — e ao monte agreste,
Como a noiva fantástica dos ermos,
Irás, musa celeste!

EntĂŁo, nas horas solenes
Em que o mĂ­stico himeneu
Une em abraço divino
Verde a terra, azul o céu;

Quando, já finda a tormenta
Que a natureza enlutou,

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Há Metafísica Bastante em não Pensar em Nada

Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que idéia tenho eu das cousas?
Que opiniĂŁo tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?

NĂŁo sei. Para mim pensar nisso Ă© fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela nĂŁo tem cortinas).

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vĂŞ o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filĂłsofos e de todos os poetas.
A luz do sol nĂŁo sabe o que faz
E por isso nĂŁo erra e Ă© comum e boa.

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Requiescat

Por que me vens, com o mesmo riso,
Por que me vens, com a mesma voz,
Lembrar aquele ParaĂ­so,
Extinto para nĂłs?

Por que levantas esta lousa?
Por que, entre as sombras funerais,
Vens acordar o que repousa,
O que nĂŁo vive mais?

Ah! esqueçamos, esqueçamos
Que foste minha e que fui teu:
NĂŁo lembres mais que nos amamos,
Que o nosso amor morreu!

O amor é uma árvore ampla, e rica
De frutos de ouro, e de embriaguez:
Infelizmente, frutifica
Apenas uma vez…

Sob essas ramas perfumadas,
Teus beijos todos eram meus:
E as nossas almas abraçadas
Fugiam para Deus.

Mas os teus beijos esfriaram.
Lembra-te bem! lembra-te bem!
E as folhas pálidas murcharam,
E o nosso amor também.

Ah! frutos de ouro, que colhemos,
Frutos da cálida estação,
Com que delĂ­cia vos mordemos,
Com que sofreguidĂŁo!

Lembras-te? os frutos eram doces…
Se ainda os pudéssemos provar!
Se eu fosse teu… se minha fosses,
E eu te pudesse amar…

Em vĂŁo,

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Pouco Usamos do Pouco que Mal Temos

Cuidas, Ă­nvio, que cumpres, apertando
Teus infecundos, trabalhosos dias
Em feixes de hirta lenha,
Sem ilusĂŁo a vida.
A tua lenha Ă© sĂł peso que levas
Para onde não tens fogo que te aqueça,
Nem sofrem peso aos ombros
As sombras que seremos.
Para folgar nĂŁo folgas; e, se leoas,
Antes legues o exemplo, que riquezas,
De como a vida basta
Curta, nem também dura.
Pouco usamos do pouco que mal temos.
A obra cansa, o ouro nĂŁo Ă© nosso.
De nĂłs a mesma fama
Ri-se, que a nĂŁo veremos
Quando, acabados pelas Parcas, formos,
Vultos solenes, de repente antigos,
E cada vez mais sombras,
Ao encontro fatal —
O barco escuro no soturno rio,
E os novos abraços da frieza estígia
E o regaço insaciável
Da pátria de Plutão.

Litoral

Estávamos um diante do outro
como um sĂł espelho de ouro.
Entre nĂłs corria o rio rubro
e era tempo de despedida.
Portugal, Espanha ou as ciciadas,
Ă© tempo, mas de frutas cĂ­tricas
para ter nas mĂŁos a colhida,
ácida, consentida, súplice vida.

ESPERO

Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.

Tu? Eu?

NĂŁo morres satisfeito.
A vida te viveu
sem que vivesses nela.
E nĂŁo te convenceu
nem deu qualquer motivo
para haver o ser vivo.

A vida te venceu
em luta desigual.
Era todo o passado
presente presidente
na polpa do futuro
acuando-te no beco.
Se morres derrotado,
nĂŁo morres conformado.

Nem morres informado
dos termos da sentença
de tua morte, lida
antes de redigida.
Deram-te um defensor
cego surdo estrangeiro
que ora metia medo
ora extorquia amor.

Nem sabes se Ă©s culpado
de nĂŁo ter culpa. Sabes
que morres todo o tempo
no ensaiar errado
que vai a cada instante
desensinando a morte
quanto mais a soletras,
sem que, nascido, more
onde, vivendo, morres.

NĂŁo morres satisfeito
de trocar tua morte
por outra mais (?) perfeita.
NĂŁo aceitas teu
como aceitaste os muitos
fins em volta de ti.

Testemunhaste a morte
no privilégio de ouro
de a sentires em vida
através de um aquário.
Eras tu que morrias
nesse,

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