O Ferrador de Cavalos
Em que lĂngua falarei
ao ferrador de cavalos?
Por que, na minha lĂngua
de assombro e vogal,
sĂł falo a mim mesmo
â ao meu nada e ao meu tudo â
e nem sequer disponho
do gesto dos mudos?
Se as palavras morrem
Ă mĂngua como os homens
e se o silĂȘncio fala
seu prĂłprio idioma
em que lĂngua direi
ao homem diferente
que ele Ă© meu semelhante
quando o vejo ferrar
o casco de um cavalo?
Empunhando o martelo
ele me conta histĂłrias
de cravos perdidos
e cavalos mancos.
Palavras que se perdem
como ferraduras
no caminho do pasto.
Poemas sobre Palavras de LĂȘdo Ivo
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O Amigo
Embora seja teu amigo
nĂŁo nos encontraremos nunca.
Jamais verĂĄs a minha sombra
quando eu caminhar ao teu lado
nem ouvirĂĄs minhas palavras
se um dia eu te gritar bem alto.
SĂł no momento em que morreres
Ă© que irei ao teu encontro.
E para sempre ficarei
em teu silĂȘncio e solidĂŁo
de homem morto e abandonado.
Condição para Aceitar
Que a morte me lembre
um mar transparente,
sĂł assim a aceito:
silĂȘncio final
dentro de meu peito,
perfeição de vagas
brancas e caladas,
paisagem abolida
no horizonte raso
do mar sem coqueiros,
vazio do mundo
apĂłs a palavra
que quis dizer tudo
e nĂŁo disse nada.