Noutes de Chuva
Eu n茫o sei, 贸 meu bem, cheio de gra莽as!
Se tu amas no Outomno – j谩 sem rosas! –
A longa e lenta chuva nas vidra莽as,
E as noutes glaciaes e pluviosas!N’essas noutes sem luz, que – visionarios-
Temos chymeras misticas, celestes,
E scismamos nos pobres solitarios
Que tiritam debaixo dos cyprestes!Que evocamos os liricos passados,
As chymeras, e as horas infelizes,
Os velhos casos tristes olvidados,-
E os mortos cora莽玫es sob as raizes!N’essas noutes, meu bem! em que desfeito
Cae o frio granizo nas estradas,
E tanto apraz, sonhando, sobre o leito,
Ouvir a longa chuva nas cal莽adas!N’essas noutes, electricas, nervosas,
Todas cheias d’aromas outonaes,
Que a tristeza tem formas monstruosas
Como n’um sonho os porticos claustraes.Noutes s贸 em que o sabio acha prazeres,
– T茫o ignorados dos crueis profanos! –
E em que as nervosas, mysticas mulheres,
Desfallecem chorando nos pianos.N’essas noutes, meu bem! 茅 que os poetas
Tem 谩s vezes seus sonhos mais brilhantes,
Folheam suas obras predilectas…
–
Poemas sobre Passado de Ant贸nio Gomes Leal
3 resultadosO Selvagem
Eu n茫o amo ninguem. Tambem no mundo
Ninguem por mim o peito bater sente,
Ninguem entende meu sofrer profundo,
E rio quando chora a demais gente.Vivo alheio de todos e de tudo,
Mais callado que o esquife, a Morte e as lousas,
Selvagem, solitario, inerte e mudo,
– Passividade estupida das Cousas.Fechei, de ha muito, o livro do Passado
Sinto em mim o despreso do Futuro,
E vivo s贸 commigo, amortalhado
N’um egoismo barbaro e escuro.Rasguei tudo o que li. Vivo nas duras
Regi玫es dos crueis indifferentes,
Meu peito 茅 um covil, onde, 谩s escuras,
Minhas penas calquei, como as serpentes.E n茫o vejo ninguem. Saio s贸mente
Depois de p么r-se o sol, deserta a rua,
Quando ninguem me espreita, nem me sente,
E, em lamentos, os c茫es ladram 脿 lua…
O Mundo Velho
Nas crises d’este tempo desgra莽ado,
Quando nos pomos tristes a espalhar
Os olhos pela historia do passado…
Quem n茫o ver谩, contente ou consternado,
– Mundo velho que est谩s a desabar – ?!…Sim tu est谩s a morrer, vil socio antigo…
E Pae de nossos vicios e paix玫es!
Camarada dos crimes, torpe amigo…
– Morre, emfim, correr谩 no teu jazigo,
Em vez de vinho, o sangue das na莽玫es!Deves morrer, provecto criminoso!
Tens vivido de mais, vil sensual!
Tu est谩s velho, cansado e desgostoso,
E, como um velho principe gotoso,
Ris, cruelmente, 谩s sensa莽玫es do mal.– Que 茅 feito do teu Deus, do teu Direito?
– Onde est茫o as vis玫es dos teus prophetas?
– Quem te deu esse orgulho satisfeito?
Muribundo Caiphaz, junto ao teu leito,
Morrem, debalde, os gritos dos poetas!No tempo em que eras forte, foi teu bra莽o
Que apunhalou os grandes ideaes!…
Hoje est谩s gordo, sensural, devasso,
E andas, torpe a rir, como um palha莽o,
N’um circulo lusente de punhaes.Tu tens vendido os justos no mercado!