Adeus

JĂĄ gastĂĄmos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou nĂŁo chega
para afastar o frio de quatro paredes.
GastĂĄmos tudo menos o silĂȘncio.
GastĂĄmos os olhos com o sal das lĂĄgrimas,
gaståmos as mãos à força de as apertarmos,
gastĂĄmos o relĂłgio e as pedras das esquinas
em esperas inĂșteis.

Meto as mĂŁos nas algibeiras e nĂŁo encontro nada.
Antigamente tĂ­nhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possĂ­veis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquĂĄrio,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje sĂŁo apenas os meus olhos.
É pouco, mas Ă© verdade,
uns olhos como todos os outros.

JĂĄ gastĂĄmos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
jĂĄ se nĂŁo passa absolutamente nada.

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