Poemas sobre PĂĄtria de Sophia de Mello Breyner Andresen

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Poemas de pĂĄtria de Sophia de Mello Breyner Andresen. Leia este e outros poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen em Poetris.

ExĂ­lio

Quando a pĂĄtria que temos nĂŁo a temos
Perdida por silĂȘncio e por renĂșncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia Ă© como grades

Pirata

Sou o Ășnico homem a bordo do meu barco.
Os outros sĂŁo monstros que nĂŁo falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.

Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E hĂĄ momentos que sĂŁo quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.

A minha pĂĄtria Ă© onde o vento passa,
A minha amada Ă© onde os roseirais dĂŁo flor,
O meu desejo Ă© o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.

Sua Beleza

Sua beleza Ă© total
Tem a nĂ­tida esquadria de um Mantegna
Porém como um Picasso de repente
Desloca o visual

Seu torso lembra o respirar da vela
Seu corpo Ă© solar e frontal
Sua beleza à força de ser bela
Promete mais do que prazer
Promete um mundo mais inteiro e mais real
Como pĂĄtria do ser

PĂĄtria

Por um paĂ­s de pedra e vento duro
Por um paĂ­s de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro

Pelos rostos de silĂȘncio e de paciĂȘncia
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidĂŁo
Dum longo relatĂłrio irrecusĂĄvel

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento

E pela limpidez das tĂŁo amadas
Palavras sempre ditas com paixĂŁo
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silĂȘncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

– Pedra   rio   vento   casa
Pranto   dia   canto   alento
Espaço   raiz   e ĂĄgua
Ó minha pátria e meu centro

Me dói a lua me soluça o mar
E o exĂ­lio se inscreve em pleno tempo