Onde o Mar Falta
Entreabertas as pernas, e pousada
de leve, sobre os ombros, a cabeça,
parecias Ă s vezes, derramada
no fundo, mais espessa.E eras lĂquida: vias, atravĂ©s
de tua prĂłpria sombra transparente
a luminosidade dos teus pés,
alados. Porque ausente.Jamais dizias nada. Sempre tinhas
entre os lábios, a voz silenciosa
dos que voltam. Onda apĂłs onda, vinhas
(e vens) misteriosa.Desde a profundidade, do mar. Brusco
nas suas reacções, onde o mar falta
sob as ondas, aĂ, aĂ te busco —
e Ă©s, como as ondas, alta.Quando olho o horizonte: quando tudo
se dissolve em si mesmo e, onda apĂłs
onda, me calo. Vejo, e estou mudo.
O mar na tua voz.Porque vias o mar (tinhas o mar
no olhar) fechando os olhos. E defronte
o vĂamos surgir. Bastava olhar,
que tudo era horizonte.
Poemas sobre Pernas de Octávio Mora
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Biografia
Sou aquele a quem busco:
jamais encontrarei a minha sombra.
A noite me acompanha
e sei que luto
com a treva. Combato: sangue a sangue
e corpo a corpo.Rios sob o meu pulso
escapam ao destino atroz do sono:
durmo com a lembrança
de minha fuga
e o sĂłlido vazio das montanhas.
Sem horizontes.Avanço com a angústia
prévia: a visão do derradeiro encontro.
Reconheço que canso.
Porque sou surdo:
só ouço a minha voz quando alguém chama
alguém que é outro.Reconheço um segundo:
crio logo raĂzes e sou tronco
sem nenhuma esperança.
Espero tudo
e nĂŁo espero nada que nĂŁo ganhe
outro contorno.Sou aquele que do hĂşmus
liberta os pés e as pernas sem esforço
até saber que anda
imĂłvel. Fundas
sĂŁo minhas mĂŁos e afundam por instantes.
Encolho os ombros.