O Amor e a Morte
Canção cruel
Corpo de Ăąnsia.
Eu sonhei que te prostrava,
E te enleava
Aos meus mĂșsculos!Olhos de ĂȘxtase,
Eu sonhei que em vĂłs bebia
Melancolia
De hå séculos!Boca sÎfrega,
Rosa brava
Eu sonhei que te esfolhava
PĂ©tala a pĂ©tala!Seios rĂgidos,
Eu sonhei que vos mordia
Até que sentia
VĂłmitos!Ventre de mĂĄrmore,
Eu sonhei que te sugava,
E esgotava
Como a um cĂĄlice!Pernas de estĂĄtua,
Eu sonhei que vos abria,
Na fantasia,
Como pĂłrticos!PĂ©s de sĂlfide,
Eu sonhei que vos queimava
Na lava
Destas mĂŁos ĂĄvidas!Corpo de Ăąnsia,
Flor de volĂșpia sem lei!
NĂŁo te apagues, sonho! mata-me
Como eu sonhei.
Poemas sobre Pés de José Régio
3 resultadosPoema do SilĂȘncio
Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angĂșstia e de revolta.Foi em meu nome que fiz,
A carvĂŁo, a sangue, a giz,
SĂĄtiras e epigramas nas paredes
Que nĂŁo vi serem necessĂĄrias e vĂłs vedes.Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
– Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razĂŁo das Ă©pi trĂĄgi-cĂłmicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo…O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. Ăąnsias de Altura e Abismo,
Tinham raĂzes banalĂssimas de egoĂsmo.Que sĂł por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tĂŁo humano!Senhor meu Deus em que nĂŁo creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.
CĂąntico Negro
“Vem por aqui” – dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Hå, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…A minha glĂłria Ă© esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
– Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre Ă minha mĂŁeNĂŁo, nĂŁo vou por aĂ! SĂł vou por onde
Me levam meus prĂłprios passos…Se ao que busco saber nenhum de vĂłs responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aĂ…Se vim ao mundo, foi
SĂł para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstĂĄculos?…
Corre,