Pastelaria
Afinal o que importa nĂŁo Ă© a literatura
nem a crĂtica de arte nem a câmara escuraAfinal o que importa nĂŁo Ă© bem o negĂłcio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ĂłcioAfinal o que importa nĂŁo Ă© ser novo e galante
– ele há tanta maneira de compor uma estante!Afinal o que importa Ă© nĂŁo ter medo: fechar os olhos frente ao precipĂcio
e cair verticalmente no vĂcioNĂŁo Ă© verdade, rapaz? E amanhĂŁ há bola
antes de haver cinema madame blanche e parolaQue afinal o que importa nĂŁo Ă© haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que comeQue afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
Ă saĂda da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudoNo riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos Ă mostra
Poemas sobre Pés de Mário Cesariny
3 resultadoshomenagem a cesário verde
Aos pés do burro que olhava para o mar
depois do bolo-rei comeram-se sardinhas
com as sardinhas um pouco de goiabada
e depois do pudim, para um Ăşltimo cigarro
um feijĂŁo branco em sangue e rolas cozidasPouco depois cada qual procurou
com cada um o poente que convinha.
Chegou a noite e foram todos para casa ler Cesário Verde
que ainda há passeios ainda há poetas cá no paĂs!
de profundis amamus
Ontem
Ă s onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própriaAndámos
dez quilĂłmetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
Ă© da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteirosOlha
como sĂł tu sabes olhar
a rua os costumesO PĂşblico
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nissoNĂŁo faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas nĂŁo te importes
nĂŁo te importes
muito
nĂłs sĂł temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponĂvel
maravilhados maravilhosos Ăşnicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso