ConfissĂŁo
Meus lĂĄbios, meus olhos (a flor e o veludo…)
Minha ideia turva, minha voz sonora,
Meu corpo vestido, meu sonho desnudo…
Senhor confessor! Sabeis tudo â tudo!
Quanto o vulgo, ingénuo, ao saudar-me, ignora!Sabeis que em meus beijos a fome dormira
Antes que da orgia a fĂ© despertasse…
Sabeis que sem oiro o mundo Ă© mentira
E, como do fruto que Deus proibira,
Um luar tombou, manchando-me a face.PĂĄssaro, cativo da noite infinita!
Ăguia de asa inĂștil, pela noite presa!
Ă cruz dos poetas! Ăł noite infinita!
Ă palavra eterna! minha Ășnica escrita!
Beleza! Beleza! Beleza! Beleza!Eis as minhas mĂŁos! Quem pode prendĂȘ-las?
SĂŁo frĂĄgeis, mas nelas hĂĄ dedos inteiros.
Senhor confessor! Quem nĂŁo conta estrelas?
Meus dedos, um dia, contaram estrelas…
Quem conta as estrelas nĂŁo conta dinheiros!
Poemas sobre Poetas de Pedro Homem de Melo
4 resultadosResgate
NĂŁo sou isto nem aquilo
Ă o meu modo de viver
Ă, Ă s vezes, tĂŁo tranquilo
Que nem chega a dar prazer…
Todavia, onde apareço,
Logo a paz desaparece
E a guerra que não mereço
DĂĄ princĂpio Ă minha prece.
Ăs alegre? VĂȘs-me triste?
Por que nĂŁo te vais embora?
Quem Ă© triste Ă© porque Ă© triste.
E quem chora Ă© porque chora.
Tenho tudo o que nĂŁo tens
Tenho a névoa por remate.
Sou da raça desses cães
Em que toda a gente bate.
SĂł a idade com o tempo
HĂĄ-de vir tornar-me forte.
A uns, basta-lhes o vento…
Aos Poetas, basta a morte.
InocĂȘncia
De um lado, a veste; o corpo, do outro lado,
LĂmpido, nu, intacto, sem defesa…
Mitológico rosto debruçado
Na noite que, por ele, fica acesa!Se traz os lĂĄbios hĂșmidos e lassos
Ă que a paixĂŁo sem mĂĄcula ainda o cega
E tatuou na curva de alvos braços
As sete letras da palavra: entrega.Acre perfume o dessa flor agreste.
Ălcool azul o desse verde vinho.
De um lado o corpo; do outro lado, a veste
Como luar deitado no caminho…Em frente hĂĄ um pinheiro cismador.
O rio corre, vagaroso ao fundo.
Na estrada ninguĂ©m passa… Ai! tanto amor
Sem culpa!
Ai! dos Poetas deste mundo!
Aleluia
Era a mulher â a mulher nua e bela,
Sem a impostura inĂștil do vestido
Era a mulher, cantando ao meu ouvido,
Como se a luz se resumisse nela…
Mulher de seios duros e pequenos
Com uma flor a abrir em cada peito.
Era a mulher com bĂblicos acenos
E cada qual para os meus dedos feito.
Era o seu corpo â a sua carne toda.
Era o seu porte, o seu olhar, seus braços:
Luar de noite e manancial de boda,
Boca vermelha de sorrisos lassos.
Era a mulher â a fonte permitida
Por Deus, pelos Poetas, pelo mundo…
Era a mulher e o seu amor fecundo
Dando a nĂłs, homens, o direito Ă vida!