Poemas sobre Praia de CecĂ­lia Meireles

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Epitáfio

Ainda correm lágrimas pelos
teus grisalhos, tristes cabelos,
na terra vĂŁ desintegrados,
em pequenas flores tornados.

Todos os dias estás viva,
na soledade pensativa,
Ăł simples alma grave e pura,
livre de qualquer sepultura!

E nĂŁo sou mais do que a menina
que a tua antiga sorte ensina.
E caminhamos de mĂŁo dada
pelas praias da madrugada.

A Amiga Deixada

Antiga
cantiga
da amiga
deixada.

Musgo da piscina,
de uma água tão fina,
sobre a qual se inclina
a lua exilada.

Antiga
cantiga
da amiga
chamada.

Chegara tĂŁo perto!
Mas tinha, decerto,
seu rosto encoberto…
Cantava — mais nada.

Antiga
cantiga
da amiga
chegada.

PĂ©rola caĂ­da
na praia da vida:
primeiro, perdida
e depois — quebrada.

Antiga
cantiga
da amiga
calada.

Partiu como vinha,
leve, alta, sozinha,
— giro de andorinha
na mĂŁo da alvorada.

Antiga
cantiga
da amiga
deixada.

O Tempo Seca o Amor

O tempo seca a beleza,
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.

O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.

O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestĂ­gio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.

Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
nĂŁo na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.