Na Arca Aberta, o Justo Peca
Na arca aberta o justo peca,
não em canastra fechada;
mas vós da minha coitada
fechada a fazeis caneca:
vindes lá de seca e meca
com tal pressa e furor tal,
que fazeis, para meu mal,
com mau termo e ruim modo,
do meu queijo lama e lodo,
e do meu pão cinza e sal.Quando as peras me levais,
então para peras levo,
pois vos pago o que não devo,
e vós rindo vos ficais:
se pêra flamenga achais
a comeis em português,
e me fazeis d’essa vez,
com estrondo e com arenga,
os narizes á flamenga
muito mal em que me pez.Não vos escapam por pés
minhas cerejas bicais,
nem as ginjas garrafais,
se as tenho alguma vez:
porque mal, em que me pez,
como cerejas se vão
pelos pés á vossa mão
e da vossa mão á minha,
a cereja é marouvinha
as ginjas galegas são.Passa hoje por lebre o gato,
por perdiz passa o francelho
por capão o galo velho,
Poemas sobre Pressa de António Serrão de Castro
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