Carta de Amor
Para te dizer tĂŁo-sĂł que te queria
Como se o tempo fosse um sentimento
bastava o teu sorriso de um outro dia
nesse instante em que fomos um momento.
Dizer amor como se fosse proibido
entre os meus braços enlaçar-te mais
como um livro devorado e nunca lido.
SerĂĄ pecado, amor, amar-te demais?
Esperar como se fosse (des) esperar-te,
essa certeza de te ter antes de ter.
Ensaiar sozinho a nossa arte
de fazer amor antes de ser.
Adivinhar nos olhos que nĂŁo vejo
a sede dessa boca que nĂŁo canta
e deitar-me ao teu lado como o Tejo
aos pés dessa Lisboa que ele encanta.
Sentir falta de ti por tu nĂŁo estares
talvez por nĂŁo saber se tu existes
(percorrendo em silĂȘncio esses altares
em sacrifĂcios pagĂŁos de olhos tristes).
AusĂȘncia, sim. Amor visto por dentro,
certezas ao contrĂĄrio, por estar sĂł.
Pesadelo no meu sonho noite adentro
quando, ao meu lado, dorme o que nĂŁo sou.
E, afinal, depois o que ficou
das noites perdidas Ă procura
de um resto de virtude que passou
por nĂłs em co(r)pos de loucura?
Poemas sobre Procura de Fernando Tavares Rodrigues
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