Poemas sobre Rapazes de Cesário Verde

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Poemas de rapazes de Cesário Verde. Leia este e outros poemas de Cesário Verde em Poetris.

Desastre

Ele ia numa maca, em ânsias, contrafeito,
Soltando fundos ais e trĂŞmulos queixumes;
CaĂ­ra dum andaime e dera com o peito,
Pesada e secamente, em cima duns tapumes.

A brisa que balouça as árvores das praças,
Como uma mĂŁe erguia ao leito os cortinados,
E dentro eu divisei o ungido das desgraças,
Trazendo em sangue negro os membros ensopados.

Um preto, que sustinha o peso dum varal,
Chorava ao murmurar-lhe: “Homem nĂŁo desfaleça!”
E um lenço esfarrapado em volta da cabeça,
Talvez lhe aumentasse a febre cerebral.

***
Findara honrosamente. As lutas, afinal,
Deixavam repousar essa criança escrava,
E a gente da provĂ­ncia, atĂ´nita, exclamava:
“Que providĂŞncias! Deus! Lá vai para o hospital!”

Por onde o morto passa há grupos, murmurinhos;
Mornas essĂŞncias vĂŞm duma perfumaria,
E cheira a peixe frito um armazém de vinhos,
Numa travessa escura em que nĂŁo entra o dia!

Um fidalgote brada e duas prostitutas:
“Que espantos! Um rapaz servente de pedreiro!”
Bisonhos, devagar, passeiam uns recrutas
E conta-se o que foi na loja dum barbeiro.

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LĂşbrica

Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás de por mim morrer,
Morrer muito contente.

Lançastes, no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!

Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!

Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso,
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso:

Do teu rostinho oval
Os olhos tĂŁo nefandos
Traduzem menos mal
Os vĂ­cios execrandos.

Teus olhos sensuais,
Libidinosa Marta,
Teus olhos dizem mais
Que a tua prĂłpria carta.

As grandes comoções
Tu neles, sempre, espelhas;
São lúbricas paixões
As vĂ­vidas centelhas…

Teus olhos imorais,
Mulher, que me dissecas,
Teus olhos dizem mais
Que muitas bibliotecas!