O Amor
I
Eu nunca naveguei, pieguĂssimo argonauta
Dans les fleuves du tendre, onde hĂĄ naufrĂĄgios bons,
Conduzindo Florian na tolda a tocar frauta,
E cupidinhos d’oiro a tasquinhar bombons.
Nunca ninguém me viu de capa à trovador,
Ăs horas em que estĂĄ jĂĄ Menelau deitado,
A tanger o arrabil sob os balcÔes em flor
Dos castelos feudais de papelĂŁo doirado.
NĂŁo canto de Anfitrite as vaporosas fraldas,
(Eu nĂŁo quero com isto, Ăł VĂ©nus, descompor-te)
Nem costumo almoçar c’roado de grinaldas,
Nem nunca pastoreei enfim, vestido Ă corte,
De bordão de cristal e punhos de Alençon,
Borreguinhos de neve a tosar esmeraldas
Num lameiro qualquer de qualquer Trianon.
Eu não bebo ambrósia em taças cristalinas,
Bebo um vinho qualquer do Douro ou de Bucelas,
Nem vou interrogar as folhas das boninas,
Para saber o amor, o tal amor das Elas.
NĂŁo visto da poesia a tĂșnica inconsĂștil,
Pela simples razĂŁo, sob o pretexto fĂștil
De ter visto passar na rua uns pés bonitos;
Nem do meu coração eu fiz um paliteiro,
Onde venha o amor cravar os seus palitos.
Poemas sobre RazĂŁo de Guerra Junqueiro
2 resultadosMorena
NĂŁo negues, confessa
Que tens certa pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena.Pois eu nĂŁo gostava,
Parece-me a mim,
De ver o teu rosto
Da cor do jasmim.Eu nĂŁo… mas enfim
Ă fraca a razĂŁo,
Pois pouco te importa
Que eu goste ou que nĂŁo.Mas olha as violetas
Que, sendo umas pretas,
O cheiro que tĂȘm!
VĂȘ lĂĄ que seria,
Se Deus as fizesse
Morenas também!Tu és a mais rara
De todas as rosas;
E as coisas mais raras
SĂŁo mais preciosas.HĂĄ rosas dobradas
E hĂĄ-as singelas;
Mas sĂŁo todas elas
Azuis, amarelas,
De cor de açucenas,
De muita outra cor;
Mas rosas morenas,
SĂł tu, linda flor.E olha que foram
Morenas e bem
As moças mais lindas
De Jerusalém.
E a Virgem Maria
NĂŁo sei… mas seria
Morena também.Moreno era Cristo.
VĂȘ lĂĄ depois disto
Se ainda tens pena
Que as mais raparigas
Te chamem morena!