VĂ©spera
Amor: em teu regaço as formas sonham
o instante de existir: ainda Ă© bem cedo
para acordar, sofrer. Nem se conhecem
os que se destruirĂŁo em teu bruxedo.Nem tu sabes, amor, que te aproximas
a passo de veludo. Ăs tĂŁo secreto,
reticente e ardiloso, que semelhas
uma casa fugindo ao arquitecto.Que pressĂĄgios circulam pelo Ă©ter,
que signos de paixĂŁo, que suspirĂĄlia
hesita em consumar-se, como flĂșor,
se não a roça enfim tua sandålia?Não queres morder célere nem forte.
Evitas o clarĂŁo aberto em susto.
Examinas cada alma. Ă fogo inerte?
O sacrifĂcio hĂĄ de ser lento e augusto.EntĂŁo, amor, escolhes o disfarce.
Como brincas (e és sério) em cabriolas,
em risadas sem modo, pés descalços,
no cĂrculo de luz que desenrolas!Contempla este jardim: os namorados,
dois a dois, lĂĄbio a lĂĄbio, vĂŁo seguindo
de teu capricho o hermético astrolåbio,
e perseguem o sol no dia findo.E se deitam na relva; e se enlaçando
num desejo menor, ou na indecisa
procura de si mesmos,
Poemas sobre Ritmo de Carlos Drummond de Andrade
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