Lisboa
No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas
Subidas.
Havia duas prisões. Uma delas era para os gatunos.
Eles acenavam através das grades.
Eles gritavam. Eles queriam ser fotografados!“Mas aqui”, dizia o revisor e ria baixinho como um afectado
“aqui sentam-se os polĂticos”. Eu vi a fachada, a fachada, a fachada
e em cima, a uma janela, um homem,
com um binĂłculo Ă frente dos olhos, espreitando
para além do mar.A roupa pendia no azul. Os muros estavam quentes.
As moscas liam cartas microscĂłpicas.
Seis anos depois, peguntei a uma dama de Lisboa:
Isto Ă© real, ou fui eu que sonhei ?Tradução por LuĂs Costa
Poemas sobre Roupas de Tomas Tranströmer
2 resultadosFunchal
O restaurante do peixe na praia, uma simples barraca, construĂda por náufragos.
Muitos, chegados Ă porta, voltam para trás, mas nĂŁo assim as rajadas de vento do mar. Uma sombra encontra-se num cubĂculo fumarento e assa dois peixes, segundo uma antiga receita da Atlântida, pequenas explosões de alho.
O Ăłleo flui sobre as rodelas do tomate. Cada dentada diz que o oceano nos quer bem, um zunido das profundezas.
Ela e eu: olhamos um para o outro. Assim como se trepássemos as agrestes colinas floridas, sem qualquer cansaço. Encontramo-nos do lado dos animais, bem-vindos, nĂŁo envelhecemos. Mas já suportámos tantas coisas juntos, lembramo-nos disso, horas em que tambĂ©m de pouco ou nada servĂamos ( por exemplo, quando esperávamos na bicha para doar o sangue saudável – ele tinha prescrito uma transfusĂŁo). Acontecimentos, que nos podiam ter separado, se nĂŁo nos tivĂ©ssemos unido, e acontecimentos que, lado a lado, esquecemos – mas eles nĂŁo nos esqueceram!
Eles tornaram-se pedras, pedras claras e escuras, pedras de um mosaico desordenado.
E agora aconteceu: os cacos voam todos na mesma direcção, o mosaico nasce.
Ele espera por nĂłs. Do cimo da parede,