Poemas sobre Saber de CecĂ­lia Meireles

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Canção Póstuma

Fiz uma canção para dar-te;
porém tu jå estavas morrendo.
A Morte Ă© um poderoso vento.
E Ă© um suspiro tĂŁo tĂ­mido, a Arte…

É um suspiro tímido e breve
como o da respiração diåria.
Choro de pomba. E a Morte Ă© uma ĂĄguia
cujo grito ninguém descreve.

Vim cantar-te a canção do mundo,
mas estĂĄs de ouvidos fechados
para os meus lĂĄbios inexatos,
— atento a um canto mais profundo.

E estou como alguém que chegasse
ao centro do mar, comparando
aquele universo de pranto
com a lĂĄgrima da sua face.

E agora fecho grandes portas
sobre a canção que chegou tarde.
E sofro sem saber de que Arte
se ocupam as pessoas mortas.

Por isso Ă© tĂŁo desesperada
a pequena, humana cantiga.
Talvez dure mais do que a vida.
Mas Ă  Morte nĂŁo diz mais nada.

Sem Corpo Nenhum

Sem corpo nenhum,
como te hei de amar?
— Minha alma, minha alma,
tu mesma escolheste
esse doce mal!

Sem palavra alguma,
como o hei de saber?
— Minha alma, minha alma,
tu mesma desejas
o que nĂŁo se vĂȘ!

Nenhuma esperança
me dĂĄs, nem te dou:
— Minha alma, minha alma,
eis toda a conquista
do mais longo amor!