Poemas sobre Saber de LuĂ­s Filipe Castro Mendes

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Eu Digo do Amor nĂŁo Mais que a Sombra

Eu digo do amor nĂŁo mais que a sombra.
Agora o quarto oferece toda a inclinação da luz
aos dedos que tremem sĂł de aflorar
o que da carne Ă© jĂĄ incorruptĂ­vel saber
e crispação sem causa natural.
SĂŁo nossas inimigas as cortinas
amplas do verĂŁo, os fumos e vapores
que esta terra nos devolve, a fria
repercussĂŁo do espĂ­rito que treme
sobre um tĂŁo ausente e despossuĂ­do mundo.
Disse-te que voltasses devagar os teus olhos
para o mecanismo simples da erosĂŁo.
Eu parti hĂĄ muito e neste quarto
apenas aguardo o relĂąmpago surdo do teu corpo,
a contenção muda e não menos esplendorosa
da carne recordada e pressentida.
No entanto, deixĂĄmos escurecer
excessivamente o mundo. Ele acolhe-se
a nĂłs, com terror e evidĂȘncia,
e nĂłs, em verdade, que podemos dizer?
Eu digo do amor nĂŁo mais que a sombra,
mas o teu rosto e a luz nada pode conter.

Romance de NĂłs

Estou Ă  beira do mar,
estou Ă  beira de ti.
Ardem no meu olhar
os sonhos que nĂŁo vi.
Tudo em nĂłs foi naufrĂĄgio,
nĂŁo quisemos saber:
fizemos nosso adĂĄgio
do que nĂŁo pĂŽde ser.
Que resta do amor
a quem Ă© como nĂłs?
Envergonha-me pĂŽr
em verso: «somos sós;
sĂłs como amanhecer
Ă s avessas do mundo;
sĂłs como podem ser
as areias no fundo;
somos sĂłs e sabĂȘ-lo
Ă© negar o pronome
que de nĂłs fez novelo
e por nós se consome».