Morangos

No começo do amor, quando as cidades
nos eram desconhecidas, de que nos serviria
a certeza da morte se podĂ­amos correr
de ponta a ponta a veia eléctrica da noite
e acabar na praia a comer morangos
ao amanhecer? Diziam-nos que tĂ­nhamos

a vida inteira pela frente. Mas, amigos,
como pudemos pensar que seria assim
para sempre? Ou que a mĂşsica e o desejo
nos conduziriam de estação em estação
até ao pleno futuro que julgávamos

merecer? Afinal, o futuro era isto.
Não estamos mais sábios, não temos
melhores razões. Na viagem necessária
para o escuro, o amor Ă© um passageiro
ocasional e difĂ­cil. E a partir de certa altura
todas as cidades se parecem.