Gazel do Amor Imprevisto
O perfume ninguém compreendia
da escura magnĂłlia de teu ventre.
Ninguém sabia que martirizavas
entre os dentes um colibri de amor.Mil pequenos cavalos persas dormem
na praça com luar de tua fronte,
enquanto eu enlaçava quatro noites,
inimiga da neve, a tua cinta.Entre gesso e jasmins, o teu olhar
era um pálido ramo de sementes.
Procurei para dar-te, no meu peito,
as letras de marfim que dizem sempre,sempre, sempre; jardim em que agonizo,
teu corpo fugitivo para sempre,
teu sangue arterial em minha boca,
tua boca já sem luz para esta morte.Tradução de Oscar Mendes
Poemas sobre Sangue de Federico GarcĂa Lorca
4 resultadosCacida da Mulher Estendida
Despida ver-te Ă© recordar a terra.
A terra lisa, limpa de cavalos.
A terra sem um junco, forma pura
ao futuro cerrada: argĂŞntea fĂmbria.Despida ver-te Ă© compreender a ânsia
da chuva que procura débil talhe,
ou a febre do mar de imenso rosto
sem a luz encontrar de sua face.O sangue soará pelas alcovas
e virá com espada fulgurante,
mas tu não saberás onde se oculta
o coração de sapo ou a violeta.Teu ventre Ă© uma luta de raĂzes,
teus lábios, uma aurora sem contorno,
por sob as rosas tépidas da cama
os mortos gemem esperando vez.Tradução de Oscar Mendes
Este Ă© o PrĂłlogo
Deixaria neste livro
toda minha alma.
Este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.Que compaixĂŁo dos livros
que nos enchem as mĂŁos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam!Que tristeza tĂŁo funda
é mirar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta!Ver passar os espectros
de vidas que se apagam,
ver o homem despido
em PĂ©gaso sem asas.Ver a vida e a morte,
a sĂntese do mundo,
que em espaços profundos
se miram e se abraçam.Um livro de poemas
Ă© o outono morto:
os versos sĂŁo as folhas
negras em terras brancas,e a voz que os lĂŞ
Ă© o sopro do vento
que lhes mete nos peitos
— entranháveis distâncias. —O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchadas
de chorar o que ama.O poeta é o médium
da Natureza-mĂŁe
que explica sua grandeza
por meio das palavras.
RuĂna
Sem encontrar-se.
Viajante pelo seu prĂłprio torso branco.
Assim ia o ar.Logo se viu que a lua
era uma caveira de cavalo
e o ar uma maçã escura.Detrás da janela,
com látegos e luzes se sentia
a luta da areia contra a água.Eu vi chegarem as ervas
e lhes lancei um cordeiro que balia
sob seus dentezinhos e lancetas.Voava dentro de uma gota
a casca de pluma e celulĂłide
da primeira pomba.As nuvens, em manada,
ficaram adormecidas contemplando
o duelo das rochas contra a aurora.VĂŞm as ervas, filho;
já soam suas espadas de saliva
pelo céu vazio.Minha mão, amor. As ervas!
Pelos cristais partidos da morada
o sangue desatou suas cabeleiras.Tu somente e eu ficamos;
prepara teu esqueleto para o ar.
Eu sĂł e tu ficamos.Prepara teu esqueleto;
Ă© preciso ir buscar depressa, amor, depressa,
nosso perfil sem sonho.