Poemas sobre Saudades de CecĂ­lia Meireles

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Poemas de saudades de CecĂ­lia Meireles. Leia este e outros poemas de CecĂ­lia Meireles em Poetris.

De Longe Te Hei-de Amar

De longe te hei-de amar
– da tranquila distĂąncia
em que o amor Ă© saudade
e o desejo, constĂąncia.

Do divino lugar
onde o bem da existĂȘncia
Ă© ser eternidade
e parecer ausĂȘncia.

Quem precisa explicar
o momento e a fragrĂąncia
da Rosa, que persuade
sem nenhuma arrogĂąncia?

E, no fundo do mar,
a Estrela, sem violĂȘncia,
cumpre a sua verdade,
alheia Ă  transparĂȘncia.

De Que SĂŁo Feitos os Dias?

De que sĂŁo feitos os dias?
– De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.

Entre mĂĄgoas sombrias,
momentĂąneos lampejos:
vagas felicidades,
inactuais esperanças.

De loucuras, de crimes,
de pecados, de glĂłrias
– do medo que encadeia
todas essas mudanças.

Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças…

Personagem

Teu nome Ă© quase indiferente
e nem teu rosto jĂĄ me inquieta.
A arte de amar Ă© exactamente
a de se ser poeta.

Para pensar em ti, me basta
o prĂłprio amor que por ti sinto:
Ă©s a ideia, serena e casta,
nutrida do enigma do instinto.

O lugar da tua presença
Ă© um deserto, entre variedades:
mas nesse deserto Ă© que pensa
o olhar de todas as saudades.

Meus sonhos viajam rumos tristes
e, no seu profundo universo,
tu, sem forma e sem nome, existes,
silĂȘncio, obscuro, disperso.

Teu corpo, e teu rosto, e teu nome,
teu coração, tua existĂȘncia,
tudo – o espaço evita e consome:
e eu sĂł conheço a tua ausĂȘncia.

Eu só conheço o que não vejo.
E, nesse abismo do meu sonho,
alheia a todo outro desejo,
me decomponho e recomponho.

O Tempo Seca o Amor

O tempo seca a beleza,
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas ĂĄguas.

O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lågrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.

O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frĂĄgil arabesco,
vestĂ­gio do musgo humano,
na densa turfa mortuĂĄria.

Esperarei pelo tempo
com suas conquistas ĂĄridas.
Esperarei que te seque,
nĂŁo na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.